Version classiqueVersion mobile

Território e sociedade

 | 
Ana Maria Nogales Vasconcelos
, 
Leides Barroso Azevedo Moura
, 
Sergio Ulisses Silva Jatobá
, 
et al.

Unidade 1. Desenvolvimento e integração metropolitana

Área metropolitana de Brasília e o mercado de trabalho

Bruno de Oliveira Cruz

Texte intégral

Introdução

  • 15 Combes et al. (2012) fazem rigoroso teste empírico para cidades francesas, testando se a maior prod (...)

1A literatura em economia urbana tem destacado cada vez mais o papel das cidades no crescimento econômico. Cidades e regiões metropolitanas são fontes de novas ideias, aprendizado e troca de experiências, que resultam em uma das fontes para o crescimento econômico. Essa troca de conhecimento tácito, a transmissão e interação entre as pessoas, a existência de “labor pooling” ou nichos de trabalhadores especializados são características inerentes de metrópoles e grandes aglomerados urbanos. A existência de um maior número de pessoas também facilita o melhor casamento (”matching”) de pessoas e empresas, aumentando ainda mais a produtividade dos trabalhadores e empresas. Isto é, quanto mais especializada a empresa, maior a chance de encontrar um trabalhador com as habilidades específicas necessárias para a sua atividade. Todas essas características são classificadas como ganhos de aglomeração, fazendo com que metrópoles tendam a ter maior produtividade que cidades menores. Duranton (2008) discute o papel das cidades e regiões metropolitanas no crescimento. Desta forma, o estudo da economia urbana, da dinâmica metropolitana não é apenas importante para se entender melhor equidade e bem-estar entre os seus moradores e trabalhadores, mas também para que se possa, cada vez mais, estimular o papel dinamizador das aglomerações urbanas. Algumas vezes as cidades são consideradas centro de inovação, de criação de novas ideias e de motor de crescimento.15 Uma grande questão é se as cidades em países em desenvolvimento possuem o mesmo papel de motor de crescimento que as metrópoles dos países desenvolvidos. Grande parte da literatura aponta para uma resposta positiva para a esta pergunta fundamental, ou seja, mesmo em países em desenvolvimentos as grandes cidades possuem um papel relevante no dinamismo das cidades. Assim o estudo da região metropolitana de Brasília é importante não somente para entender espaços de exclusão, mas também para se pensar como dinamizar a economia da cidade.

  • 16 A respeito do histórico da formação da AMB, ver capítulos de Aldo Paviani e Sérgio Ulisses Jatobá n (...)

2Os países da América Latina na segunda metade do século XX tiveram um rápido processo de urbanização e a formação de grandes aglomerados urbanos. Brasília foi fundada na década 60, quando esse processo de urbanização, associado à migração campo-cidade estava a pleno vapor. O processo de metropolização de Brasília é um pouco mais complexo que os demais aglomerados urbanos brasileiros, uma vez que a cidade ainda estava por se formar.16 Nos dias atuais, no entanto, não se pode negar a formação de uma região metropolitana, com uma população próxima a 4 milhões de habitantes em 2015, e fluxos intensos de bens e serviços entre o DF e os municípios goianos que circundam a Capital Federal. A Área Metropolitana de Brasília (AMB) possui ainda uma segunda fonte de complexidade, o seu arranjo federativo bastante peculiar, a Capital Federal e sua periferia metropolitana se estendem a pelo menos mais um Estado, com os munícipios goianos integrando essa Metrópole.

3Uma das principais características das metrópoles é o mercado de trabalho integrado. A distribuição dos empregos está intimamente ligada a sua configuração urbana; e Brasília, por sua característica peculiar de Capital Federal, possui uma clara área de concentração de empregos no Plano Piloto, sua Área Central de Negócios. As estimativas da Codeplan, a partir da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), mostram que do total de empregos formais do DF, em 2014, 52% localizavam-se no Plano Piloto e quase 3/4 da massa salarial estava concentrada na área central da cidade. Em termos absolutos, o Plano Piloto apresenta 568,9 mil empregos formais (CODEPLAN, 2017). Assim, o DF possui essa clara centralidade de empregos, que afeta diretamente o mercado de trabalho e o deslocamento de trabalhadores localizados na periferia metropolitana. A Pesquisa Metropolitana por Amostra de Domicílios (PMAD), em 2013, estimava que pelo menos 1/3 dos ocupados dos municípios da PMB trabalhava no Plano Piloto. Em alguns municípios, como Águas Lindas de Goiás, Novo Gama, Planaltina, Cidade Ocidental ou Valparaíso de Goiás, menos de 40% da população trabalhava no próprio município. Em Planaltina e Cidade Ocidental, mais 70% da população trabalhava no DF (CODEPLAN, 2013).

4A Periferia Metropolitana de Brasília (PMB) engloba uma fonte de heterogeneidade e complexidade, pois aliada a quase cidades-dormitórios, coexistem municípios com forte dinâmica no agronegócio e na produção mecanizada de grãos, como Cristalina e Formosa. Essa diferença estrutural entre os municípios obviamente reflete-se no mercado de trabalho e na inserção produtiva dos trabalhadores.

5Uma quarta característica marcante da PMB são indicadores sociais abaixo da média do DF. A taxa de analfabetismo para pessoas com 15 anos ou mais chega a patamares de 12% a 15% em Cocalzinho de Goiás, Cidade Ocidental ou Padre Bernardo, segundo a PDAD 2013 (CODEPLAN, 2013). No Censo Demográfico de 2000, mais de 1/4 das crianças de 6 a 14 anos apresentavam mais de 2 anos de defasagem escolar. No entanto, acompanhando a tendência no nível nacional, o DF e sua periferia metropolitana apresentaram melhoria dos indicadores sociais nas duas primeiras décadas do século XXI, como mostram os dados do IDM-H do Atlas de Desenvolvimento Humano (ATLAS BRASIL, 2013). Em 2000, o IDH-M era de 0,698 e atingiu 0,798 em apenas uma década com melhoria em todos os indicadores de renda, educação e saúde. No entanto, a despeito da evidente melhoria nos indicadores sociais, a periferia metropolitana ainda é caracterizada por forte vulnerabilidade socioeconômica.

6Em resumo, a AMB apresenta quatros características marcantes :

  1. Complexidade no Arranjo Federativo, com a composição da área metropolitana em duas unidades federativas e a existência de uma Ride (Região Integrada de Desenvolvimento Econômico), muito mais ampla do que nos municípios diretamente relacionados à dinâmica metropolitana.17
  2. Mercado de trabalho integrado, com a presença de municípios, onde grande parte da população trabalhadora se desloca diariamente para o DF, cujo fluxo é estimado em mais de 200 mil pessoas.
  3. Heterogeneidade dos municípios, quase cidades-dormitório convivem com regiões dinâmicas do agronegócio e da produção de grãos.
  4. Vulnerabilidade social nos municípios, ainda que, nos períodos de crescimento nos anos 2000, tenha havido uma significativa melhora nos indicadores.

7Este capítulo e videncia alguns aspectos do mercado de trabalho da AMB:

  1. Comportamento recente do mercado de trabalho com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho.
  2. Para além de questões conjunturais, a escolaridade da mão de obra ocupada, segundo as pesquisas domiciliares disponíveis, Censo Demográfico e PMAD.
  3. Outra característica extremamente importante é o local de trabalho em contraposição ao local de moradia. Como consequência do descasamento entre o local de moradia e o local de trabalho, faz-se uma breve análise do tempo de deslocamento ao trabalho nos munícipios da PMB. Fica patente que municípios cuja dinâmica do mercado de trabalho está associada ao DF possuem em média mais de 30% de trabalhadores gastando mais de 1 hora no deslocamento casa-trabalho.

Comportamento recente do mercado de trabalho – registros do caged e rais

  • 18 O CODACE, vinculado ao Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), insp (...)

8A recente crise da economia brasileira foi uma das mais longas e mais profundas desde os anos 80 do século passado. O Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE)18 - IBRE/FGV estima em 11 trimestres, tendo início no segundo trimestre de 2014 e terminando no último trimestre de 2016 (CODACE, 2017). A queda acumulada no produto nacional durante o período recessivo foi de mais de 8% no nível do PIB comparado ao período pré-crise. No entanto, existem duas questões importantes: como o mercado de trabalho foi afetado pela crise recente e, olhando em termos territoriais, como o mercado de trabalho do DF e da periferia metropolitana foram afetados por essa enorme reversão do ciclo econômico. Em primeiro lugar, deve-se destacar a diferença estrutural da economia brasileira e da economia do DF, essa última fortemente concentrada no setor de serviços. Essas duas características fazem supor que a economia do DF seja menos sensível ao ciclo que a economia nacional. Ao mesmo tempo, a periferia metropolitana possui, além da relação intensa com o DF, uma dinâmica econômica própria associada ao agronegócio e à exportação de commodities, o que também reduz a sensibilidade aos choques associados exclusivamente à economia nacional.

  • 19 Para exemplificar essa demora na recuperação da economia, tomando os dados do sistema de expectativ (...)
  • 20 Em geral, as admissões são mais sensíveis ao ciclo econômico, as empresas em momentos recessivos ma (...)

9O saldo do CAGED, entre admitidos e desligados acumulado de 12 meses, mostra de maneira evidente, já no início de 2015, a destruição líquida de postos de trabalhos. No entanto, há importantes diferenças na composição setorial da crise. Os primeiros setores do mercado de trabalho mais afetados pela crise, em nível nacional, são a construção civil e a indústria de transformação.19 Em contraposição no DF, a construção civil começa a se retrair mesmo antes de momentos da recessão brasileira. Certamente, a dinâmica de obras públicas relacionadas à Copa tem um momento de arrefecimento no fim de 2012, que se acentua durante o ano de 2015. Note-se, contudo, que o setor de serviços no DF continua criando empregos, mesmo após o início da recessão em 2014. A reduzida participação da indústria de transformação na economia local, setor sensível ao ciclo econômico, explica em parte a demora do efeito recessivo no mercado de trabalho do DF. O comércio foi o segundo setor a começar a reduzir o número de postos de trabalho e somente a partir da metade do ano de 2016, os demais ramos do setor de serviços começam a destruir postos de trabalho em termos líquidos no acumulado de 12 meses. Ou seja, a crise econômica parece demorar mais para chegar ao mercado de trabalho no DF e a mesma parece ser mais curta e menos duradoura que a recessão em nível nacional. De toda forma, o impacto no mercado de trabalho do DF foi claro. No fundo do vale, ou seja, no momento mais grave da crise econômica, há uma destruição de 30 mil postos de trabalhos na Capital Federal. Considerando que no momento de boom, a economia do DF chegou a criar 40 mil empregos no início de 2010, estes valores dão a dimensão do tamanho da reversão do ciclo econômico e a velocidade como a economia se deteriorou nos anos de 2015-2016.20

10E quanto à PMB? É natural supor que o impacto da crise nos municípios goianos da AMB seja também menos intenso que em nível nacional, uma vez que a renda familiar dos seus moradores seria, de certa maneira, protegida por essa dinâmica diferenciada da Capital Federal, além de parte significativa da mão de obra trabalhar no DF. Em outras palavras, o total da massa salarial desses municípios teria também um colchão protetor na economia do DF. Além disso, existe a dinâmica associada ao agronegócio, que em 2017, apresentou um desempenho positivo, contribuindo para o aumento de renda e emprego nesses municípios. Por outro lado, os mesmos dados do saldo acumulado do CAGED mostram que o comportamento do setor de construção civil nesses municípios é distinto dos dados do DF. Durante praticamente todo o período pré-crise e mesmo em 2015, a Construção Civil na PMB tem criação de postos de trabalho, possivelmente associada a empreendimentos da habitação popular.

Gráfico 1 – Índice do saldo do CAGED acumulado de 12 meses. Brasil, DF e PMB. Janeiro 2010 a Maio 2018.

Gráfico 1 – Índice do saldo do CAGED acumulado de 12 meses. Brasil, DF e PMB. Janeiro 2010 a Maio 2018.

Nota : Índice de Base Fixa (jan/10=100)

Fonte: Ministério do Trabalho (MTb), CAGED, 2010 –2018. Elaboração Dieps/Codeplan

11A título de comparação entre o saldo do CAGED no Brasil, DF e PMB, o Gráfico 1 resume o desempenho das três regiões em um índice de base fixa para o início da série, janeiro de 2010. Fica claro que a economia brasileira sofre mais que as demais regiões e que no DF e PMB a crise demora mais tempo para chegar.

Qualificação da mão de obra ocupada

12A heterogeneidade da estrutura produtiva dos munícipios da AMB também se reflete na qualificação e escolaridade da mão de obra. O Gráfico 2, a partir dos dados do Censo Demográfico, resume essa heterogeneidade nos diversos municípios. Valparaíso de Goiás, Formosa e Cidade Ocidental possuem 40% da população economicamente ativa (PEA) com no máximo o fundamental incompleto como educação formal. Em Padre Bernardo e Cocalzinho, mais da metade da PEA não completou a formação básica educacional. O contraste com o DF também é evidente. No DF quase 1/4 da PEA possui nível superior completo, enquanto o município com maior percentual da PEA com nível superior completo na PMB é Formosa, mas ainda assim com 12,7%. Note, contudo, que em Águas Lindas de Goiás, esse percentual era de apenas 2%. Dois casos interessantes são os de Valparaíso de Goiás e Cidade Ocidental, ainda que o percentual de trabalhadores com nível superior seja mais baixo que a média brasileira, 8,6% e 5,9% respectivamente, há um percentual elevado de pessoas com qualificação de médio completo ou superior incompleto.

Gráfico 2 – População economicamente ativa por nível de instrução. Brasil, DF e municípios da PMB, 2010.

Gráfico 2 – População economicamente ativa por nível de instrução. Brasil, DF e municípios da PMB, 2010.

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

13É interessante notar que mesmo munícipios com dinâmicas associadas ao agronegócio possuem perfis completamente diferentes: Formosa está entre os munícipios com mão de obra de escolaridade mais elevada, enquanto Cristalina está entre os municípios com elevada proporção de pessoas sem a qualificação básica. Assim, fica evidente o diferencial entre o DF e sua periferia metropolitana

Local de trabalho e tempo de deslocamento

  • 21 Este tema é tratado nos textos da Unidade 4 deste livro.

14Duranton (2008) utiliza um modelo estilizado de cidade, baseado em Henderson (1974), no qual os salários são uma função crescente do tamanho da cidade devido aos retornos positivos dos ganhos de aglomeração. Mas, ao mesmo tempo, os custos de vida, incluindo habitação e deslocamento para o trabalho, crescem de acordo com o tamanho da cidade. Assim, o salário líquido, a diferença entre os salários e os custos de vida, seria uma função côncava, havendo um momento em que os custos de vida cresceriam mais rapidamente que os salários e haveria uma redução do salário líquido. Desta forma, haveria um ponto ótimo, com um valor máximo de salário líquido, que definiria um tamanho ótimo para as cidades. A existência de uma cidade informal ou, no caso da AMB, de municípios com menor regulação urbanística e maior oferta de terras, pode explicar a dinâmica de crescimento da região metropolitana, ao mesmo tempo que se evidencia a importância de se estudar os custos de deslocamento casa-trabalho. Um aumento no tempo de deslocamento da periferia metropolitana implica, implicitamente, uma redução nos salários líquidos e assim um menor estímulo para o crescimento da periferia metropolitana. Desta forma, fica clara a importância de se estudar o deslocamento casa-trabalho na periferia de Brasília para a região central, esta é uma variável-chave para entender a dinâmica urbana da metrópole, além de ter efeitos diretos sobre o bem-estar das famílias.21

15As estimativas da PMAD/2013 apontavam para um fluxo diário de 212 mil trabalhadores para o DF. O percentual de pessoas trabalhando no próprio município fica pouco acima de 50%, também não há muita interação entre as cidades da periferia. A quase totalidade das pessoas trabalham no próprio município ou exercem suas atividades no DF. Em outras palavras, fica muito patente o movimento pendular de deslocamento dos trabalhadores em direção ao munícipio sede da Metrópole, o Distrito Federal, caracterizando uma forte relação de centro-periferia. Contudo, existem diferenças marcantes entre os municípios. Cristalina, Formosa, Alexânia, seja pela distância ao centro, seja pela composição da economia e a presença do agronegócio, possuem um percentual menor que 10% de pessoas trabalhando no DF. Mesmo Luziânia, quando se exclui o Jardim Ingá, possui um percentual de abaixo de 20% de pessoas trabalhando no DF. Por outro lado, em Planaltina, Águas Lindas de Goiás e Valparaíso de Goiás, mais da metade da população tem como local de trabalho o Distrito Federal.

16Quanto ao tempo de deslocamento, é interessante também notar que há diferenças entre os municípios com maior parcela de trabalhadores tendo o DF como local de trabalho e o tempo de deslocamento. Os dados aqui apresentados são do Censo Demográfico do IBGE de 2010. Interessante notar que existem três grupos bem distintos, considerando-se o percentual de pessoas que trabalham em outro município e o tempo total de deslocamento para o trabalho: no primeiro grupo Santo Antônio do Descoberto, Águas Lindas de Goiás, Cidade Ocidental, Planaltina e Novo Gama, no qual percentual de acima de 40% de trabalhadores exercem atividades fora do município e ao mesmo tempo acima de 40% de trabalhadores gastam mais de 1 hora para se deslocar ao trabalho. Em contrapartida, municípios com dinâmicas associadas mais fortemente ao agronegócio (Cristalina e Formosa) e também mais distantes da Capital, apresentam percentual reduzido de pessoas trabalhando fora do município e também pequena parcela de trabalhadores com deslocamento acima de 1 hora. Existem também alguns municípios numa posição intermediária no que se refere a tempo de deslocamento e trabalho em outro município, como Luziânia, Cocalzinho de Goiás e Padre Bernardo. Considerando-se todos os municípios da PMB, 182 mil pessoas se deslocavam para outros municípios em 2010 e 30,6% dos trabalhadores da PMB gastavam mais de 1 hora para se deslocar ao trabalho. Um comparativo com outras regiões metropolitanas, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte por exemplo, mostra que os municípios da PMB possuem um maior percentual de pessoas trabalhando em outros municípios e percentual mais elevado de pessoas gastando mais de 1 hora para se deslocar ao trabalho. Esse elevado impacto do tempo de deslocamento tem efeitos não triviais sobre diversos aspectos, desde a produtividade menor, devido ao cansaço físico, à dificuldade de conciliar o trabalho com atividades e tarefas domésticas ou mesmo cuidados familiares de crianças e idosos.

Gráfico 3 –Percentual de pessoas trabalhando em outro município e percentual de trabalhadores gastando mais de 1 hora se deslocando para o trabalho. Municípios da PMB e Regiões Metropolitanas selecionadas. 2010.

Gráfico 3 –Percentual de pessoas trabalhando em outro município e percentual de trabalhadores gastando mais de 1 hora se deslocando para o trabalho. Municípios da PMB e Regiões Metropolitanas selecionadas. 2010.

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. Elaboração DIEPS/CODEPLAN.

Considerações finais

17Este capítulo analisou alguns aspectos do mercado de trabalho na Área Metropolitana de Brasília, com foco especial para os municípios da PMB. Novamente, confirma-se a grande heterogeneidade desses municípios. Na PMB, encontram-se municípios com percentual acima de 50% de pessoas trabalhando no DF, e, por outro lado, municípios com dinâmica econômica extremamente associada ao agronegócio. Há uma grande disparidade entre os municípios quanto à qualificação e escolaridade da mãe de obra: alguns deles, como Formosa, apresentam escolaridade da mão de obra próxima à distribuição do Brasil, outros, com uma forte concentração de mão de obra com baixa qualificação, como Padre Bernardo, Águas Lindas de Goiás, Cocalzinho de Goiás e Cristalina. Quanto aos aspectos conjunturais do mercado de trabalho, os empregos na PMB mostram-se menos atrelados ao ciclo econômico nacional, por dois motivos: a dinâmica do agronegócio exportador e a forte presença do setor público no DF.

18O estudo do mercado de trabalho dos municípios da PMB é relevante não apenas para se tentar combater vulnerabilidades sociais, mas também para se pensar num mercado de trabalho integrado; diversos estudos apontam que existem ganhos de produtividade em regiões metropolitanas, pela possibilidade de se ter uma miríade de habilidades de trabalhadores disponíveis e assim empresas e trabalhadores poderem ter um matching, ou seja, trabalhadores cada vez mais especializados encontrando firmas ou empresas com necessidades também muito específicas. O desafio de se pensar a AMB inclui um arranjo federativo complexo, a vulnerabilidade social dos municípios da periferia e a heterogeneidade de seus municípios.

Bibliographie

Referências bibliográficas

ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL - ATLAS BRASIL, Rio de Janeiro, PNUD, IPEA,Fundação João Pinheiro. 2013.. Disponível em: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/o_atlas/quem_faz/atlas_regiao_metropolitana/. Acesso em : Nov. de 2018.

CODACE. Comunicado de Datação de Ciclos Mensais. Rio de Janeiro: CODACE/ IBRE, out. 2017, p. 1-3.

CODEPLAN. Perfil Socioeconômico dos Moradores dos Municípios da AMB, Brasília: Codeplan,2013. 236 p. Disponível em: http://www.codeplan.df.gov.br/wp-content/uploads/2018/03/Perfil-socioeconômico-dos-moradores-dosmunic%C3%ADpios-da-AMB-2013.pdf. Acesso em: 25 fev. 2019.

______. Mapeamento das Atividades Econômicas no DF. Brasília: Codeplan, 2017. Disponível em: http://www.codeplan.df.gov.br/wp-content/uploads/2018/03/Mapeamento-da-Atividade-Econômica-no-DF.pdf. Acesso em : 25 fev. 2019.

COMBES, et al. The Productivity of Large Advantages of Large Cities: Distinguishing Agglomeration from Firm Selection. Econometrica, v. 80, n. 6, p. 2543-2594, Nov. 2012.

CORSEUIL , C .; SANTOS, L .Criação, Destruição e Realocação de Empregos no Brasil. Brasília: Ipea, 2006. 104p. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/criacao_destruicao_realocacao.pdf. Acesso em: 25 fev. 2019.

DAVIS, S .; HALTIWANGER, J. Gross Job Creation, Gross Job Destruction and Employment Reallocation. The Quartely Journal of Economics, v. 107, n. 3, p. 819-863, Ago. 1992.

DURATON , G . Cities: Engines of Growth and Prosperity for Developing Countries? Washington: World Bank, 2008. Working paper n. 12. Disponível em: http://siteresources.worldbank.org/EXTPREMNET/Resources/489960-1338997241035/Growth_Commission_Working_Paper_12_Cities_Engines_Growth_Prosperity_Developing_Countries.pdf. Aesso em: 25 fev. 2019.

HENDERSON , J. The Sizes and Types of Cities. American Economic Review, v. 64, n. 4, p. 640- 656, Nov. 1974.

Notes

15 Combes et al. (2012) fazem rigoroso teste empírico para cidades francesas, testando se a maior produtividade das firmas em cidades maiores seria fruto de uma maior competição entre firmas ou se haveria um papel importante para as economias de aglomeração. O resultado obtido pelos autores é a de que as economias de aglomeração são relevantes mesmo após vários controles e testes estatísticos.

16 A respeito do histórico da formação da AMB, ver capítulos de Aldo Paviani e Sérgio Ulisses Jatobá nas Unidades 1 e 2 nesta obra.

17 No capítulo da Unidade 2 deste livro, Sergio Magno Carvalho de Souza discute sobre as várias regionalizações que envolvem Brasília, e as políticas regional e metropolitana.

18 O CODACE, vinculado ao Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), inspira-se no comitê americano do National Bureau of Economic Research, o NBER’s Business Cycle Dating Committe e datando os ciclos econômicos no Brasil. As notas das reuniões do CODACE podem ser acessadas no endereço: http://portalibre.fgv.br/main.jsp?lumChannelId=4028808126B9BC4C0126BEA1755C6C93.

19 Para exemplificar essa demora na recuperação da economia, tomando os dados do sistema de expectativas do Banco Central, isto é, as previsões para a economia brasileira coletadas junto a bancos e instituições financeiras, o país só iria recuperar seu nível pré-crise em 2022.

20 Em geral, as admissões são mais sensíveis ao ciclo econômico, as empresas em momentos recessivos mais do que aumentar os desligamentos, proporcionalmente, reduzem mais rapidamente as admissões, assim o saldo líquido de criação de empregos diminui. Por esse motivo, também, a recuperação de momentos recessivos do mercado de trabalho é mais demorada, os empresários precisam ter confiança que a recuperação da economia será sustentável para voltar a contratar novos trabalhadores. Veja por exemplo Davis e Haltiwanger (1992), para o caso brasileiro ver Corseuil e Santos (2006).

21 Este tema é tratado nos textos da Unidade 4 deste livro.

Table des illustrations

Titre Gráfico 1 – Índice do saldo do CAGED acumulado de 12 meses. Brasil, DF e PMB. Janeiro 2010 a Maio 2018.
Légende Nota : Índice de Base Fixa (jan/10=100)
Crédits Fonte: Ministério do Trabalho (MTb), CAGED, 2010 –2018. Elaboração Dieps/Codeplan
URL http://books.openedition.org/irdeditions/docannexe/image/35769/img-1.jpg
Fichier image/jpeg, 38k
Titre Gráfico 2 – População economicamente ativa por nível de instrução. Brasil, DF e municípios da PMB, 2010.
Crédits Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.
URL http://books.openedition.org/irdeditions/docannexe/image/35769/img-2.jpg
Fichier image/jpeg, 59k
Titre Gráfico 3 –Percentual de pessoas trabalhando em outro município e percentual de trabalhadores gastando mais de 1 hora se deslocando para o trabalho. Municípios da PMB e Regiões Metropolitanas selecionadas. 2010.
Crédits Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. Elaboração DIEPS/CODEPLAN.
URL http://books.openedition.org/irdeditions/docannexe/image/35769/img-3.jpg
Fichier image/jpeg, 34k

Auteur

Doutor em Economia pela Universite Catholique de Louvain. Diretor de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas da Companhia de Planejamento do Distrito Federal. Técnico de Pesquisa e Planejamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Diretor-Adjunto de Estudos e Políticas Urbanas, Regionais e Ambientais do IPEA (2007-2011).

Le texte et les autres éléments (illustrations, fichiers annexes importés) sont sous Licence OpenEdition Books, sauf mention contraire.

Acheter

Volume papier

IRD Éditions
Rechercher dans OpenEdition Search

Vous allez être redirigé vers OpenEdition Search