1O livro “Território e sociedade: as múltiplas faces da Brasília metropolitana” vem integrar a Coleção Brasília da Editora UnB, que, desde a década de 1980, tem reunido pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, sob a liderança do Professor Emérito da Universidade de Brasília, Aldo Paviani, para debater e proporcionar olhares complementares sobre esse território singular que abriga a Capital Federal. A Coleção Brasília reúne obras que têm contribuído para ampliar o conhecimento sobre a dinâmica de ocupação do território, o plano urbanístico de Lucio Costa, as contradições entre realidade e utopia, questões sobre o desenvolvimento local e regional, o ambiente e as violências, entre outros temas relevantes que têm como locus de referência, Brasília e toda a sua região de influência.

2O livro “Território e sociedade: as múltiplas faces da Brasília metropolitana” nasceu das reflexões realizadas no âmbito de projeto de pesquisa proposto por pesquisadores vinculados ao Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais (NEUR), como em outras obras da Coletânea, e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional (PPGDSCI), ambos do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM) da Universidade de Brasília. Esse projeto de pesquisa, intitulado “Desenvolvimento, território e ambiente: as transformações e perspectivas na Área Metropolitana de Brasília”, foi contemplado no Edital de cooperação bilateral entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Institut de Recherche pour le Développement (IRD) da França.

3Ao definir a Área Metropolitana de Brasília como lócus representativo dos problemas urbanos atuais no país, o projeto de pesquisa se propôs a discutir perspectivas para o desenvolvimento local e regional, tendo como eixos estruturantes os temas da governança e gestão metropolitana, o patrimônio cultural e o desenvolvimento, e as desigualdades e vulnerabilidades na metrópole.

4 Tendo realizado pesquisas em conjunto sobre a mesma temática anteriormente, a cooperação entre a Universidade de Brasília e o Institut de Recherche pour le Développement permitiu aprofundar a discussão sobre a temática do desenvolvimento e buscar uma melhor compreensão sobre os problemas urbanos e metropolitanos. Nesse mesmo sentido, a colaboração da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) do Governo do Distrito Federal, com seus resultados de estudos, pesquisas e levantamentos de dados, além da contribuição nos debates e reflexões, foi fundamental para a realização desta obra.

5Os seminários e workshops realizados ao longo dos cinco anos de vigência do projeto constituíram espaços privilegiados de discussão que permitiram rever a bibliografia relevante sobre a construção de Brasília, seu significado para o desenvolvimento do país, a patrimonialização de seu projeto urbanístico, a ocupação do território e as desigualdades sócio espaciais decorrentes. Para além dos estudos e abordagens acadêmicas, esses seminários e workshops abriram espaços para outras falas, como artistas, poetas, empreendedores culturais, empreendedores sociais, representantes de organizações sociais, entre outros, que, em comum, habitam, vivem e buscam entender e transformar esse território que denominamos “Brasília metropolitana”.

6No seminário realizado em setembro de 2016, na mesa sobre as diversidades na Área Metropolitana de Brasília, o debate com o cineasta Adirley Queirós trouxe novas dimensões e perspectivas para a compreensão desse território desigual e disperso. A pergunta que dá título ao seu filme - documentário e ficção - “A cidade é uma só?” inspirou a construção da presente obra. Tendo como fio condutor a proposta (ou utopia?) de uma Brasília única e integrada, os autores apresentam consensos e dissensos da capital brasileira na perspectiva do desenvolvimento e integração metropolitana, da metropolização e governança, do patrimônio e cultura e dos efeitos das desigualdades e vulnerabilidades no curso de vida de seus moradores.

7Brasília foi criada sob o ideário imagético de ser uma cidade única. Seu projeto urbanístico aspirava refletir a imagem simbólica de um novo país. A modernidade que o presidente Juscelino Kubitschek desejava imprimir ao país seria visualizada por intermédio de uma cidade inspiradora para as cidades e regiões brasileiras. A interiorização da capital foi o coroamento do seu ousado plano de desenvolvimento e integração do país. Da mesma forma, segundo o seu idealizador, o plano piloto deveria traduzir a ideia de uma Brasília integrada, social e espacialmente. Porém, a absorção de uma população de trabalhadores, não prevista ou planejada para ser parte da população residente na capital do país, ensejou a criação de múltiplos núcleos urbanos dispersos no território do DF ainda antes de sua inauguração. A Brasília modernista do plano piloto permaneceu única pela singularidade do seu projeto, que mereceu o título de patrimônio urbanístico tombado, mas não era una. Na poética instigante de Clarice Lispector, publicada pela primeira vez em 1964, observa-se a tessitura de uma imagem da nova capital, sob o paradigma do mistério:

Se eu dissesse que Brasília é bonita veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas se digo que Brasília é a imagem de minha insônia veem nisso uma acusação. Mas a minha insônia não é bonita nem feia, minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto. É o ponto e vírgula. Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil: eles ergueram o espanto inexplicado. A criação não é uma compreensão, é um novo mistério (LISPECTOR, 1999, p. 40)1

8As cidades satélites, como idealizadas por Lucio Costa, deveriam surgir somente após a saturação populacional do núcleo central e gravitar em torno dele, com relativa autonomia, seguindo o modelo das New Towns inglesas. As vantagens desse tipo de polinucleamento seriam a de uma cidade não conurbada, que preservaria áreas de interesse ambiental e núcleos de produção rural entremeados entre os diversos centros urbanos com crescimento populacional controlado.

9 Mas na realidade urbana brasileira, marcada pelas sistêmicas desigualdades na estrutura social e econômica em contraste com a heterogeneidade encontrada na rede urbana europeia, prevalecia a macrocefalia urbana gerando áreas metropolitanas atratoras de fluxos migratórios. Brasília não fugiu à regra e o polinucleamento, que deveria ser vantajoso, transformou as cidades satélites em cidades dormitórios de uma rede urbana dispersa que concentrou os empregos no Plano Piloto e a população mais pobre na periferia, causando segregação socioespacial e deseconomias para um provimento adequado de infraestruturas e de transporte público, que penalizou os menos favorecidos.

10Na atualidade, a Brasília inicial do plano piloto se fragmentou na Brasília multifacetada de todo o DF e se expandiu para fora dos seus limites, definindo a chamada Área Metropolitana de Brasília (AMB), que abrange o DF e mais doze municípios do vizinho Estado de Goiás, conforme proposto na Nota Técnica nº 1/2014 da Codeplan.2 A AMB está entre as maiores concentrações populacionais e áreas urbanizadas do país e também tem um dos maiores índices de dispersão urbana do mundo.

11O espraiamento da mancha urbana da AMB e a segregação socioespacial sobreposta impõem custos altos para a mobilidade, as atividades de comércio e de serviços, a alocação de infraestrutura e o meio ambiente, com prejuízos para toda a sociedade, mas principalmente para os mais pobres e periferizados. Em contrapartida, começa a se notar uma maior autonomia das cidades do DF, que mesmo incompleta, permitiu o fortalecimento das identidades locais e do sentimento de pertencimento. Se a integração não se cumpriu como idealizada, é possível que a cidade que não é uma só, se fortaleça numa trama densa a partir da sua diversidade? Será mantida uma dinâmica de ruptura social e crescimento das desigualdades territoriais em todas as escalas mantendo processos sistêmicos de negação de direitos e iniquidade no desenvolvimento regional?

12 Agreguem-se a essas questões, os desafios de uma sociedade em transformação. Idealizada e construída entre as décadas de 1950 e 1960, quando dos maiores índices de crescimento demográfico do país, sendo a população brasileira extremamente jovem, as famílias numerosas, uma baixa participação feminina no mercado de trabalho, altos índices de analfabetismo, o modelo de cidade modernista projetada para o “deleite intelectual” hoje não faz parte do cotidiano da maioria de seus habitantes. O espraiamento da população no território construiu diferentes possibilidades de trajetórias de vida : na mesma metrópole, as porções do território proporcionam tempos e qualidades de vida diferentes para os seus moradores. Em tempos de grandes incertezas, tem-se como certo o envelhecimento de toda a população da AMB que traz novos desafios para se pensar em desenvolvimento e equidade.

13Na intenção de analisar e refletir sobre essas questões, os textos apresentados nesta obra abrangem desde temas mais amplos até aspectos mais específicos da integração/desintegração da Área Metropolitana de Brasília. As discussões passam por questões sobre desenvolvimento, economia, governança, política, patrimônio, cultura, vulnerabilidades e impactos dos marcadores de desigualdades ao longo do curso de vida dos grupos populacionais da cidade.

14O livro é organizado em quatro unidades : 1) Desenvolvimento e integração metropolitana; 2) Metropolização e governança, 3) Patrimônio, cultura e território e 4) O curso da vida e as desigualdades na metrópole.

15Abrindo a Unidade 1 - Desenvolvimento e integração metropolitana, Alexandre Brandão, em “Brasília Metropolitana – desintegração ou não integração ?”, apresenta uma retrospectiva da evolução da economia brasileira nos anos recentes e seus efeitos estruturais para as metrópoles brasileiras e repercussões na Área Metropolitana de Brasília (AMB). Explorando os aspectos que contribuíram para a reduzida integração entre o Distrito Federal (DF) e os municípios que formam o seu colar metropolitano, conclui que, diante das restrições aos gastos públicos, a alternativa estratégica para reduzir as grandes disparidades socioespaciais seria o incentivo a novos polos dinâmicos geradores de renda nos municípios periféricos e no interior do DF.

16 Aldo Paviani, em seu texto, “Área Metropolitana de Brasília a integrar: o desafio do desemprego e da descentralização de atividades”, discute a utópica integração da Brasília metropolitana e sua real desintegração a partir das desigualdades na distribuição espacial dos empregos e da mobilidade urbana. Defende a efetiva integração da AMB como meta a ser perseguida e sugere o reconhecimento legal dessa delimitação para possibilitar investimentos conjuntos dos governos de DF e de Goiás, com apoio do Governo Federal, para ampliar a infraestrutura urbana da periferia metropolitana de Brasília, concluindo pela necessidade de estabelecer políticas públicas que superem limites administrativos.

17Bruno Cruz, em “Área Metropolitana de Brasília e o mercado de trabalho”, analisa o trabalho na AMB com foco em três aspectos principais : a) o impacto dos efeitos recessivos da crise de 2014/2016 nos empregos formais nos municípios da sua periferia metropolitana; b) a qualificação da mão de obra dos ocupados na AMB e c) análise do local de trabalho e local de moradia, com efeitos sobre o tempo de deslocamento dos trabalhadores. As discussões e conclusões apontam um menor impacto da crise nos empregos formais dos municípios da PMB, com papel relevante para a agropecuária; o reconhecimento do alto grau de vulnerabilidade na qualificação de mão de obra, mesmo com melhoria significativa nos indicadores de escolaridade e a dependência do DF, evidenciada pelo tempo de deslocamento ao trabalho na PMB.

18Larissa Nocko e Renato Costa Coitinho, em “Metrópole em tempos de crise: finanças públicas na AMB”, analisam o comportamento das finanças da AMB e de Brasília de 2005 a 2016 tendo em vista seu contexto federativo e metropolitano, com foco no período de crise. Entre os resultados, nota-se um reflexo da crise nas receitas e despesas, acentuado e pró-cíclico, corroborando a literatura, e um ajuste fiscal particularmente forte nos gastos com pessoal e investimentos. A intensidade com que a crise afetou as finanças da região é evidente e abre o caminho para futuros estudos quanto às consequências da queda generalizada dos investimentos ou às implicações da redução de gastos com pessoal no mercado de trabalho.

19 Em “Dependência e Autonomia na Área Metropolitana de Brasília”, fechando a Unidade 1, Benny Schvarsberg analisa o grau de dependência ou de autonomia de cidades integrantes da AMB, a partir da pesquisa da série histórica de empreendimentos ou atividades aprovadas pelo poder público nos anos recentes. A hipótese investigada é a de que o predomínio de empreendimentos de atividades econômicas e institucionais, somado aos habitacionais multifamiliares, tende a expressar maior autonomia das cidades. No oposto, o predomínio de projetos aprovados de residências unifamiliares tende a expressar baixo dinamismo e autonomia urbana, reforçando o caráter de “cidades-dormitório”. A análise dos resultados demonstra que não há um padrão único de dependência/ autonomia entre as cidades do DF e da periferia metropolitana.

20Na Unidade 2 –Metropolização e governança, Sergio Magno, em “Reflexões sobre Brasília e sua(s) região(ões): política regional e política metropolitana”, apresenta diferentes possibilidades para uma “Região de Brasília”, a partir do enfoque da existência de múltiplas regionalizações e de sua interface com a gestão metropolitana. A partir do questionamento da perspectiva da existência de apenas uma única regionalização, associada legalmente à Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno – Ride-DF, discute e propõe possíveis formas de entendimento das diferentes escalas de regionalizações e da sua gestão articulada.

21Luiz Fernando Bessa e Rosana Boullosa, em “A metrópole é uma só ? Reflexões sobre a governança metropolitana de Brasília”, partem do dissenso em relação ao que é chamado de Brasília para ampliar a discussão para a questão metropolitana e a problemática da sua estrutura de governança. Tomando como base Lefebvre para entender a governança em uma conceituação mais ampla do que a de governo, e Dewey para definir o “público” como a principal categoria de análise das relações entre Estado e Sociedade, apontam para a necessidade de formação de um “público” para os problemas metropolitanos, o qual se encarregaria, ele mesmo, de produzir suas próprias estruturas de governança metropolitana.

22Frederico Bertholini, Lucio Rennó e Bruno Cruz, em “Redes de políticas e políticos na Área Metropolitana de Brasília”, analisam a relação entre a rede de políticas públicas empreendidas na AMB e a rede dos políticos que nela atuam, tomando como base os resultados eleitorais entre 1998 e 2018. Mapeando as principais forças partidárias que estão presentes na área metropolitana e a distribuição espacial do voto na AMB, a partir da compreensão das suas formas de articulação política, questionam as possibilidades de cooperação em um ambiente político polarizado e de acirrada competição eleitoral. Concluem que a multiplicidade de ações não tem resultado em uma efetiva gestão compartilhada e que há baixo grau de institucionalidade das redes de políticas da AMB.

23Marília Peluso e Lúcia Cony, em “Resíduos sólidos e gestão das desigualdades na Brasília Metropolitana”, enfocam a disposição final de resíduos sólidos na AMB, destacando as desigualdades na oferta de serviços públicos e de infraestrutura entre o DF e os municípios mais pobres. A despeito dos níveis socioeconômicos diferenciados e respondendo às exigências legais, ações conjuntas têm sido promovidas, como a instalação do Consórcio Público de Manejo dos Resíduos Sólidos e das Águas Pluviais da Região Integrada do Distrito Federal e Goiás (Corsap/DF/GO). No entanto, os obstáculos parecem indicar que uma governança compartilhada ainda não é efetiva.

24Na Unidade 3 – Patrimônio, cultura e território, Sergio Jatobá, em “Brasília: Até que ponto se fragmentou a utopia modernizante ?” indaga em que medida o ideal de prosperidade econômica, equidade social e transformação cultural que o sonho da nova capital engendrava se realizou. Argumenta que, mesmo diante da fragmentação que aprofundou desigualdades socioespaciais, há elementos na contemporaneidade distópica que fortalecem a autonomia dos núcleos urbanos que se desenvolvem fora da Área Tombada e favorecem o fortalecimento das identidades locais. Conclui que o risco inerente a este progressivo empoderamento das cidades da AMB é uma possível redução da valorização de Brasília como Patrimônio da Humanidade, para a qual apresenta a solução de reinventar a utopia inicial da cidade idealizada por Lucio Costa

25Marcia Mathieu em “Brasília, é uma cidade só ? O impacto das medidas preservacionistas do Plano Piloto na expansão dos espaços urbanos da Área Metropolitana de Brasília”, analisa o surgimento das medidas preservacionistas da Área Tombada de Brasília e o seu desenvolvimento nas três últimas décadas, vis-à-vis com o impacto que produziram na expansão do seu espaço metropolitano. Argumenta a favor de uma articulação mais efetiva entre as políticas patrimoniais e a dinâmica territorial segregadora da AMB, para concluir pela necessidade de maior coesão social, de modo a inserir a preservação patrimonial em uma lógica de desenvolvimento econômico dinâmico e inclusivo.

26Janaina Peres, em “A cidade é uma só ? Brasília e os perigos de uma resposta única”, argumenta que a cidade em transformação é mais plural e mais complexa do que pode parecer à primeira vista. Na sua reflexão sobre os rumos do planejamento urbano entende que a cidade planejada não se confunde com cidade pronta ou acabada, reafirmando a ideia de que as aglomerações urbanas são construções sociais. Outras respostas emergem dos movimentos de cultura urbana ou de rua; nos desabafos dos candangos deslocados de seus lugares originais de moradia, nas letras do rap produzido na Ceilândia, que, em sua maioria, negam o pertencimento à Brasília, entendida aqui como o Plano Piloto, e afirmam outros vínculos territoriais. É a partir dessas outras respostas, não oficiais, que a autora propõe construir uma reflexão sobre a unicidade e/ou a diversidade da Brasília-real.

27Cleide do Carmo, Leonardo Hernandes, Mario Vieira e Fátima Makiuchi, em “Concentração e desigualdades: um olhar para a política de financiamento à cultura do Distrito Federal”, analisam as desigualdades (re)produzidas no modelo de gestão da cultura do Distrito Federal, tendo como fonte de observação o Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC) e suas ações voltadas para afirmação da diversidade cultural. O principal argumento é que, além da alta concentração de equipamentos culturais na região central do DF, há também concentração de recursos em agentes culturais dessa região e consequentemente no fomento à cultura, reforçando as concentrações sociais e econômicas já existentes na AMB.

28Fátima Makiuchi, Mariana Ribeiro e Pamela Arteaga, em “Política cultural no Distrito Federal: território, descentralização e participação”, analisam as políticas culturais no território do DF a partir dos dados da plataforma Mapa nas Nuvens e da atuação dos Conselhos Regionais de Cultura. Mesmo reconhecendo que houve mudança na forma de distribuição de recursos com a instituição do FAC Regionalizado, o texto conclui que ainda permanece a desigualdade centro-periferia na política cultural e que é preciso ampliar a sua abrangência para uma efetiva democracia cultural.

29Na Unidade 4 – O curso da vida e as desigualdades na metrópole - Ana Maria Nogales Vasconcelos, Rebeca Cruz, Lidia Barbosa e Leides Moura, em “Marcadores de desigualdades no nascer e crescer na metrópole”, mostram as diferentes condições de nascimento e de vida na infância e adolescência, para, em seguida, apresentar as estruturas de oportunidade nas diferentes porções do território da AMB. Os resultados apontam que são as localidades de menor poder aquisitivo da AMB, com estruturas de oportunidades – saúde, educação, assistência social –mais escassas e precarizadas, que concentram maior proporção de nascimentos, crianças e adolescentes. Conclui-se pela necessidade de uma metrópole que tenha políticas transformadoras para as atuais e novas gerações de cidadãos, combatendo a reprodução de desigualdades.

30Tamille Dias, Ana Maria Nogales Vasconcelos, Lidia Barbosa e Leides Moura em “As juventudes da metrópole”, analisam as trajetórias dos jovens para a vida adulta se apresentam de forma desigual e heterogênea na AMB e são marcadas por importantes diferenciais interconectados baseados em gênero, raça, classe e interações entre contexto socioeconômico e inserção social, que variam segundo gradiente de exposição às desigualdades. A condição das juventudes em situação de vulnerabilidade assume face mais complexa e imbricada a fatores da estrutura social e pode ser caracterizada pela precariedade das estruturas de oportunidades nos territórios segregados da cidade e pelas incertezas provocadas pelas mudanças do contexto urbano que produzem insegurança social e vínculos frágeis. Discutem-se algumas dimensões da transição para a vida adulta, trajetórias laborais dos jovens e a necessidade de políticas públicas diferenciadas ampliar o acesso à estrutura de oportunidades e mitigar as múltiplas vulnerabilidades dos jovens na cidade.

31Ana Maria Nogales Vasconcelos, Julia Modesto e Karoline Dutra em A vida adulta na metrópole e as desigualdades no mundo do trabalho, avaliam como as oportunidades no mercado de trabalho podem se apresentar de forma diferenciada, para a população adulta do Distrito Federal segundo sexo, raça/ cor e local de residência. Os resultados evidenciam que ainda existem grandes desigualdades no mundo do trabalho do Distrito Federal. Os dados apresentados apontam que as desigualdades observadas na vida adulta determinam as desigualdades ao nascer, crescer e que irão se reproduzir na vida destes indivíduos no envelhecer.

32Leides Barroso Azevedo Moura, Rebeca Cruz, Patrícia Bezerra e Ana Maria Nogales Vasconcelos em “Um olhar sobre a Pessoa Idosa na Área Metropolitana de Brasília: oportunidades e desafios” discutem que não existe uma categoria homogênea quando se descreve a pessoa idosa, uma vez que cada pessoa na fase de vida adulta idosa experimenta trajetórias de oportunidades únicas e desafios pessoais, familiares e coletivos relacionados ao curso de vida e aos determinantes sociais de uma população e seu território. O estudo objetiva identificar as diferenças nas condições do envelhecimento, considerando-se a periferia e o centro da Área Metropolitana de Brasília (AMB). Os resultados descrevem processos de envelhecimentos marcados por desigualdades de oportunidade, diferenças de expectativa de vida, iniquidade no acesso à educação, saúde, renda, tecnologias digitais, trabalho e emprego. Apresentam-se as características relacionadas aos arranjos domiciliares, às situações de violências, as condições de riscos e vulnerabilidades e uma proposta de estratégia para uma “Brasília Amiga da Pessoa Idosa”. Conclui-se pela centralidade da importância de construção de políticas e programas que busquem minimizar e enfrentar a segregação social existente na capital do país.

33Para introduzir e inspirar a leitura dos textos, apresenta-se a poesia “Outro terço para Brasília” de Leides Moura que nos faz refletir sobre as perspectivas de uma vida urbana com mais equidade.

34Finalmente, gostaríamos de agradecer o apoio financeiro e técnico do CNPq ao longo dos cinco anos de duração do projeto de pesquisa. Ao IRD pela estreita parceria e acolhimento tanto no Brasil como na França, o que possibilitou reflexões importantes sobre a metrópole. À Codeplan, pelo apoio institucional na realização dos dois seminários cujos resultados encontram-se expressos nos capítulos desta obra.

35Agradecemos também a todos os participantes dos seminários e workshops, especialmente o cineasta Adirley Queirós e o poeta Nicolas Behr, que nos mostraram outras dimensões para a compreensão da Brasília metropolitana.

36Um especial agradecimento a Helena Trindade, arquiteta e artista plástica, que nos brindou com a arte da capa, e à Professora Ignez Costa Barbosa Ferreira, professora emérita da Universidade de Brasília, pelo Prefácio e inspiração para pensar perspectivas para a metrópole complexa e em constante transformação.