Da prostituição na cidade de Lisboa
É inegável que a prostituição sempre existiu, mas nunca como no século XIX chegou a agitar tanto a paciência das correntes mais austeramente moralistas que sempre julgaram primar pelo «bom senso». Quase todos os grandes escritores naturalistas do século XIX se ocuparam da figura humana da prostituta: recordem-se Zola, Tolstoi ou Dostoyewsky. Todos eles matizaram com traços dramáticos a personagem frequentemente arrojada dos meios camponeses à vida urbana e empurrada pela miséria para a prostit...
Éditeur : Etnográfica Press
Lieu d’édition : Lisboa
Publication sur OpenEdition Books : 1 février 2021
ISBN numérique : 979-10-365-4455-2
DOI : 10.4000/books.etnograficapress.4633
Collection : Portugal de Perto | 5
Année d’édition : 1984
ISBN (Édition imprimée) : 978-972-20-0231-8
Nombre de pages : 363
José Machado Pais
Prostituição e moral pública no século XIXPrimeira parte
Secção primeira
Secção segunda
Segunda parte
Terceira parte
Secção primeira Legislação
Secção segunda Regulamentos
Projecto de regulamento policial, e sanitario para obviar os males, causados á moral e á saude pela prostituição publica
É inegável que a prostituição sempre existiu, mas nunca como no século XIX chegou a agitar tanto a paciência das correntes mais austeramente moralistas que sempre julgaram primar pelo «bom senso». Quase todos os grandes escritores naturalistas do século XIX se ocuparam da figura humana da prostituta: recordem-se Zola, Tolstoi ou Dostoyewsky. Todos eles matizaram com traços dramáticos a personagem frequentemente arrojada dos meios camponeses à vida urbana e empurrada pela miséria para a prostituição. Também a nossa literatura não deixa de evocar essa imortal personagem do quotidiano que é a prostituta. Abel Botelho consagrou-lhe o seu Livro d’Alda; Alfredo Gallis escreveu As Mulheres Perdidas; a Princesa de Boivão, de Alberto Pimentel, conta a história de uma pobre desventurada a quem o amante vingativo abre no corpo as « quatro letras ferreteantes » ; A Bandeira, de Lino Macedo, é mais uma historieta de uma pobre e desamparada cortesã; Rocha Martins dedica dois livros a cortesãs régias: A Madre Paula e a Flor da Murta, como Andrade Corvo já havia dedicado um à célebre Calcanhares : Um Ano na Corte. No teatro surgem, com o virar do último século, A Pérola, de Marcelino de Mesquita (à época proibida por «imoral») ; A Severa, de Júlio Dantas ; a Rosa Enjeitada, de D. João da Câmara, e o Fado, de Bento Mantua. Contudo, o primeiro estudo sério sobre a prostituição em Portugal apareceu em 1841, com o livro de Santos Cruz, Da Prostituição na Cidade de Lisboa, que temos o gosto de apresentar e que com tanta oportunidade surge agora a público.
Francisco Ignacio dos Santos Cruz nasceu em Santarém a 10 de Outubro de 1787 e faleceu em Lisboa, depois de prolongada doença, em 30 de Março de 1859. Formado em Medicina pela Universidade de Coimbra, foi vice-presidente e mais tarde presidente do Conselho de Saúde Pública, sócio efeictivo da Academia Real das Ciências e membro do Conselho de Sua Majestade. Além do presente livro, publicou diversos outros trabalhos, todos eles dedicados a temas de imediata utilidade e interesse público.
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