Imperialismo alemão, política externa nazi, diplomatas conservadores
p. 79-95
Texte intégral
1Ο que havia de velho e de novo na política externa nazi? Quem levou a cabo essa política? Donde vinham esses responsáveis/executantes e em que medida se adequavam à orientação política em causa?
2Estas interrogações inserem-se num debate muito mais amplo que vem sendo travado desde há décadas sobre a relação entre regimes parlamentares e ditaduras fascistas. Conforme os pontos de vista, assim se tem considerado a instauração dos diversos fascismos como um acto de rendição das democracias ou um resultado da subversão putschista e da guerra civil. Do mesmo modo, a resistência anti-fascista ora tem sido vista como um fenómeno de massas, onde ele existiu, ora tem sido encarada como manifestação política de uma elite burguesa inconformada com a ditadura.
3No caso da Alemanha, ο atentado anti-hitleriano de 20 de Julho de 1944 conferiu voga e popularidade à expressão “resistência conservadora”. E mesmo em relação aos que colaboraram sistematicamente com ο nazismo foi possivel, nos tempos da Guerra Fria, defender a versão peregrina de que essa colaboração era uma forma encapotada de obstruir e sabotar por dentro os objectivos do regime. Uma voz tão audível como a de Helmut Schmidt defendeu esta ideia sobre a Wehrmacht, Hermann-Joseph Abs defendeu-a sobre ο Deutsche Bank. Ο próprio Ministério federal dos Negócios Estrangeiros quis dar uma imagem semelhante sobre os diplomatas de carreira, e fê-lo em folhetos de escasso rigor histórico. No processo da Wilhelmstrasse, Ernst von Weizsäcker cunhou a famigerada justificação daqueles que transitaram do serviço de Weimar para ο serviço do Reich milenar: “um Schlimmeres zu verhütten” (para evitar males piores).
4Estas diversas versões corporativas emanam, contudo, dos imperativos de branqueamento e reabilitação vigentes nos anos 50 e não têm um suporte objectivo na realidade histórica.
Normalização das relações com os vencedores
5Com ο fim da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha passara rapidamente da euforia de Brest-Litovsk à humilhação de Versalhes. Em Janeiro de 1918, ο general Hoffmann e ο secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Kühlmann, puderam ainda denunciar ο cessar-fogo em vigor com a Rússia, e fazer avançar as tropas alemas até às portas de Petrogrado, ocupando um território com 34% da população da Rússia, com 54% da sua industria e 90% das suas minas de carvão1. Escassos meses depois, eram já os representantes de um novo regime a ter de assinar sob protesto ο Tratado de Versalhes. Em obediência a esse diktat, a jovem república alemã ficou impedida de reorganizar as suas industrias bélicas e as suas forças armadas. Apesar da crise económica galopante, t:eve de começar a pagar as reparações leoninas que, segundo depois se precisou no Piano Dawes, deviam onerá-la até 19882. Onde não conseguiu pagá-las, sofreu retaliações, logo desde 1921, como a ocupação aliada de cidades renanas. Em 1923 voltou a sofrer uma ocupação francesa do Ruhr, condenada internacionalmente, e em resposta teve de contentar-se com uma palavra de ordem de resistência passiva. A atitude dos governos de Weimar quanto ao diktat de Versalhes foi, basicamente, a de acatá-lo, procurando minimizar as suas consequências e diligenciando normalizar as relações com as potências vencedoras.
6A pouca receptividade destas à normalizaçao levou mesmo um partidário do diálogo com a Grã-Bretanha e a França, como era ο ministro dos Negócios Estrangeiros Walter Rathenau, a diversificar as relações da Alemanha numa inesperada negociação com a república soviética. A condição comum dos dois países como parias da comunidade internacional ocasionou na conferência de Génova uma primeira aproximação que em breve havia de plasmar-se no acordo de Rapallo, em Abril de 1922, com a renuncia recíproca a quaisquer reparações. A aproximaçao era do ponto de vista alemão meramente táctica, e visava criar um novo ponto de partida e uma nova relação de forças para as negociações com as potências ocidentais. Em todo ο caso tratava-se de um desvio táctico altamente polémico, e como tal esteve na origem do assassínio de Rathenau3.
7A política de Stresemann assentou já na nova situação e marcou com ο tempo alguns pontos significativos. Continuando embora a utilizar como meio de pressão as relações com a URSS, mostrou-se nas negociações do tratado de 1926 insensível ao interesse desta em constituir um forte bloco de excluídos da Liga das Nações4. Stresemann tinha a politica de entrar na organização, e prosseguiu essa politica com tenacidade e sucesso, apoiado nas estipulações de Locarno5.
8No que diz respeito ao fim das reparações, ele foi exigido pelo Governo Briining, pondo em causa a vigência do Piano Young. Mesmo se a exigência não obteve satisfação logo ai, ela impunha-se numa fase da economia mundial determinada pela crise de 1929. Ο governo seguinte, de von Papen, prosseguiu a estratégia de Briining e obteve na conferência de Lausana, em Julho de 1932, a fixação de uma ultima contribuição que devia pôr fim aos pagamentos alemães6. Em estreita ligação com ο problema das reparações, a diplomacia alemã obtivera a desocupação faseada da Renânia, a concluir em final de Junho de 19307.
9Também no que diz respeito ao rearmamento da Alemanha, foi a politica externa weimariana que lhe abriu ο caminho. No mesmo ano em que desipotecava a sua economia do peso das reparações, Berlim obteve da Liga das Nações ο reconhecimento de um princípio de igualdade de direitos da Alemanha no que se refere ao armamento das suas forças militares8.
“Mein Kampf”: continuidades e rupturas
10Apesar dos êxitos parciais da politica externa weimariana, havia espaço à sua direita para uma alternativa radical. Hitler articulou-a com a maior clareza durante ο tempo de cativeiro relativamente curto que teve de cumprir após ο fracassado putsch de Munique, em Novembro de 1923. Ο programa então formulado nas paginas de Mein Kampf parecia representar, na verdade, um “corte epistemológico” em relação ao que foram os programas imperials precedentes, de Bismarck ao último dos Hohenzollern. Contra a mera politica revisionista, ο dirigente nazi assumia ο objectivo de uma politica expansionista.
11Hitler recusava expressamente ficar-se pela reivindicação guilhermiana de colónias para a Alemanha9, ou pela reivindicação do restabelecimento das fronteiras de 191410, objectivos, ambos, que desprezava, como um “crime”. Embora enaltecesse ο significado histórico do colonialismo britânico, ele considerava que ο futuro da Alemanha dependia da conquista de um “espaço vital” no continente europeu. Ao contrario dos impérios ultramarinos da Grã-Bretanha e da França, ο da Alemanha devia ser caracterizado por uma continuidade territorial, que permitisse a instalação de colonatos germânicos em ligação com a metrópole e a esta proporcionasse as vantagens da unidade geográfica11. Quando muito, a obtenção de algumas colónias africanas podia ser interessante como complemento e acessório deste projecto essencial, sempre com a condição de não comptometer as boas relações com a Grã-Bretanha12.
12Com ο perfil assim traçado para ο império alemão, ο alvo da expansão teria de ser, evidentemente, a Rússia e os países a ela ligados. Ο “extermínio” pelo bolchevismo da intelectualidade de origem germânica e a sua substituição por uma classe dominante “judia”, “a escória da humanidade”13, combinam-se para enfraquecer ο Estado russo e para ο tornarem especialmente vulnerável aos apetites expansionistas alemães14. Os desígnios hitlerianos sintetizam-se assim, na expressão de Wolfgang Michalka, num “programa de espaço vital em que se combinavam expansão para Leste, aniquilação do bolchevismo e extermínio dos judeus com uma determinação e uma perversidade nunca antes conhecidas”15.
13Por outro lado, Mein Kampftrata de demonstrar que ο objectivo territorial mais ambicioso é, ao mesmo tempo, ο mais realista. Ο restabelecimento das fronteiras de 1914, sustenta, é tão inaceitável para as potências vencedoras como ο seria ο “espaço vital” verdadeiramente necessário. Se é necessaria uma guerra, conclut, mais vale fazê-la por um objectivo que galvanize as energias do povo alemão16. A fixação de um objectivo novo é, além disso, um baralhar e dar de novo que impede a cristalização das velhas alianças – a Alemanha com os seus imprestáveis aliados da Primeira Guerra Mundial, e, frente a ela, os vencedores uns com os outros, a defenderem-se mutuamente17.
14Na verdade, em Mein Kampf encontra-se uma concepção relativamente desenvolvida do sistema de alianças desejado pelo nazismo. Se a Rússia é ο inimigo estratégico, a França é um inimigo incontornavel no piano tactico mais imediato. Sera necessário derrotá-la para evitar uma nova guerra em duas frentes18. Os aliados preferenciais deveriam ser a Italia e a Grã-Bretanha. Num balanço histórico Hitler considera, alias, que ja na Primeira Guerra Mundial se deveria ter abdicado da “absurda” política colonial, com ο objectivo de atrair a Grã-Bretanha a uma aliança com os impérios centrais contra a Rússia19.
15A hostilidade à Rússia podia invocar ο precedente de Hoffmann e Kühlmann em Brest-Litovsk, ο anti-semitismo prolongava a atitude da casta diplomática durante a monarquia20 a francofobia tinha velhos antepassados na Áustria e na Prússia, a anglofilia tinha-os recentes em Weimar. Ο que havia de fundamentalmente novo na alternativa formulada por Hitler era a sistematização de elementos que, tornados de per si, ja se encontravam quase todos em fases anteriores do imperialismo alemão. Ao formular esta síntese revestida de fraseologia revolucionaria, ele ganhava adeptos, na rua, entre a pequena-burguesia pauperizada, entre ο lumpenproletariado e, nos bastidores dos ministérios, entre os burocratas irritados com a subserviência da diplomacia republicana perante os vencedores da Guerra.
Convergências entre nazis e conservadores
16Ο Auswärtiges Amt (AA), reorganizado em Reichsministerium nos primórdios da república21 colhia no final dos anos 20 alguns louros da política de Stresemann mas, pela sua composição, era um terreno especialmente fértil para a intriga anti-republicana22. Apesar da tentativa empreendida logo no início da década pela reforma de Edmund Schiller23, ο ministério rapidamente se repovoara de oficiais do exército e junkers, visceralmente hostis ao regime parlamentar24. Ο crescendo da influência nazi na sociedade e na vida política em breve havia de criar um polo de atracçao para muitos funcionários num ministério marcado pela predominãncia aristocrãtica e por profundos ressentimentos contra a democracia.
17Ο poder de atracçao desse polo reflecte-se nos números das adesões ao NSDAP desde relativamente cedo25. Mas os números não dizem tudo sobre a atitude política da burocracia ministerial. Ο antigo embaixador 85 em Roma Ulrich von Hassell e ο antigo embaixador em Moscovo Friedrich von der Schulenburg, ambos executados após ο atentado antihitleriano de 20 de Julho de 1944, e portant» exemplos do que se convencionou chamar “resistência conservadora”, eram nazis encartados desde cedo26. Outros, que nunca ο foram, mantinham uma obediência sem falhas.
18As SS apresentavam mais uma vez a combinação bem sucedida de um ingrediente tradicional com um ingrediente modernista. Classificando-se a si próprias como uma “Ordem”, no sentido medieval do termo, desdenhando abertamente a extracção plebeia das SA27, as SS estavam como peixe na agua naquele ministério de tradições elitistas e aristocrãticas. Mas, ao fixarem para a selecção da nova elite diplomática um critério racico, e não necessariamente classista, elas incoroporavam uma componente nova e tipicamente nacional-socialista. Döscher, que analisou atentamente a penetração das SS no AA, sublinha a filiação voluntaria de diversos diplomatas conservadores nesse nucleo duro do regime nazi. Assim se inscreveram nas SS mesmo alguns que continuaram sempre a ser expoentes da burocracia tradicional, como ο ministro até 1938, Konstantin von Neurath, ou ο secretário de Estado de 1938 a 1943, Ernst von Weizsäcker.
19Hitler, que soubera colaborar com Ludendorff no putsch de Munique também saberia, naturalmente, acolher num governo seu ο conservador Neurath. Em 1932 ο diplomata era sem duvida aquele em quern ο chefe do Estado, marechal Hindenburg, depositava maior confiança. Politicamente proximo dos nacional-alemães, Neurath desempenhava um papel fundamental na neutralização da reforma Schüler e no repovoamento aristocrático e nepotista do ministério. Hitler foi-lhe apresentado em finais de Janeiro e logo no primeiro encontro convidou-o a chefiar ο AA num hipotético governo nazi. A resposta positiva de Neurath foi preprematura: ο NSDAP ainda tardaria um ano em chegar ao poder.
20Mas Neurath não achava indispensável esperar tanto tempo. Depois de ter aceitado ο lugar que Hitler, afinal, ainda não podia oferecer-lhe, ele recebeu um convite idêntico para ο Governo de concentração nacional de Brüning, que também aceitou, tornando-se ministro dos Negocios Estrangeiros em Junho de 193228. Hitler, ao assumir ο cargo de chance 1er, em de Janeiro seguinte, ja encontrou Neurath à frente do AA e nem pensou em substituí-lo, porque ο seu acordo com Hindenburg reservava precisamente à decisão do marechal a escolha do chefe da diplomacia. No entanto, se ο convite de 1932 e a aceitação em 1933 de um ministro em segunda mão têm seguramente a aparência de uma concessão dos nazis às preferências de Hindenburg, outro tanto não pode dizer-se da decisão de manter Neurath à frente do AA mesmo depois da morte do chefe do estado, em Agosto de 1934. Do mesmo modo, a decisão de manter a estrutura do ministério intocada por vários anos mais, inclusive para além da mudança de ministro em Fevereiro de 1938, tem de ter outra explicação.
21Esta disponibilidade para conservar uma estrutura herdada e uma pessoa em posição destacada tem alguma importância, tanto mais que a imprensa nazi visava repetidamente essa estrutura e deixava transparecer uma voracidade infrene por cargos e sinecuras para as clientelas do partido. Hitler não só impôs uma prolongada surdina a esses apetites, como recalcou os seus próprios acessos de mau humor, ocasionalmente manifestado contra ο snobismo e cosmopolitismo da burocracia ministerial29. Fê-lo por reconhecer a comunhão fundamental de perspectivas políticas que no primeiro quinquénio da governação nazi ο unia a Neurath, como a generalidade dos autores esta de acordo em constatar. A apreciação num arco de tempo mais longo desta escolha estratégica permite, além disso, ir mais atrás e reapreciar as motivações do convite de 1932 a Neurath, não necessariamente como um preço a pagar nas negociações para a constituição do governo, mas como um interesse genuíno do nazismo pela convergência com a direita conservadora em matéria de política externa.
Preparar a guerra com outros meios
22Ao assumir a chefia do governo, em Janeiro de 1933, Hitler foi encontrar ο caminho pavimentado para os objectivos imediatos da sua política externa, em matéria de reparações, desocupação do território e, parcialmente, de rearmamento. Apoiou-se então nesse adquirido dos antecessores e pôde até proclamar ο desejo de limitar a corrida aos armamentos, nivelando por baixo os arsenais das potências europeias, e conformando-se com prazos de restabelecimento do equilíbrio militar que, no fundo, ficavam aquém da capacidade industrial colocada ao serviço do rearmamento30. Ο discurso que pronunciou no Reichstag em 17 de Maio de 1933, passado ο cabo dos cem dias de chefia do Governo, destinava-se a tranquilizar as potências europeias, asseverando ο desejo de paz da Alemanha31 Mas em breve uma nova proposta britânica, apresentada em Genebra, de adiar ο equilibrio militar por mais quatro anos, serviu de pretexto à Alemanha para não ratificar ο acordo de Roma e para se retirar da Liga das Nações32.
23Ο colete de forças da conferência de desarmamento ficava assim abolido. A politica externa alemã podia doravante passar a tratar com interlocutores descoordenados entre si e mediante recurso sistemático ao que os alemães costumam chamar uma “ Salamitaktik”, a táctica de ir eliminando os inimigos um por um. Ο mais apreensivo, Pilsudski, tornou-se ο primeiro a ser aliciado por compromissos de aparência tranquilizante. Ο presidente polaco tinha motivos para recear a cobiça alemã sobre territórios da Silésia, e chegou a ponderar a hipótese de desencadear a guerra preventiva contra um nazismo ainda não consolidado no poder33. Ο pacto germano-polaco de 1934, que alguns consideram “a mais hábil jogada de xadrez da diplomacia hitleriana”, ganhou para ο nazismo a benevolência de Pilsudski34.
24Ao método de multiplicar acordos de amizade e com eles dividir os adversários, começou entretanto a justapor-se essoutro, tipicamente nazi, de fazer politica externa com um crescente respaldo de armamento e com um constante recurso ao bluff. Hitler tentou utilizá-lo em grande escala quando do putsch nazi na Áustria, no Verão de 1934. Era cedo, do ponto de vista do caminho percorrido na estrada do rearmamento, e ο êxito dependia inteiramente da atitude mais ou menos conciliadora que encontrasse pela frente. Mas Mussolini não cedeu nesse momento. Ao posicionamento da Wehrmacht junto à fronteira austríaca respondeu com a colocação de varias divisões italianas na Passagem de Brenner, cuja presença imediatamente deitou por terra as veleidades de intervenção alemã35. Ο acordo sobre as frotas entre a Alemanha e a Gra-Bretanha, de Junho de 1935, marcava entretanto ο começo da política de appeasement36. Ο rearmamento iniciado clandestinamente pelos nazis em 1933 passava a ter uma parcial cobertura britânica. Ε ο recurso ao bluff político-militar ficava daí em diante substancialmente facilitado. Com a ocupação alemã da Renânia, em 7 de Março de 1936, ο método averbou ο seu primeiro sucesso. A Grã-Bretanha opôs-se a retaliar e a França não quis fazê-lo sozinha37. Sabemos hoje que ο Estado-Maior alemão aguardou durante dias, em angustiante incerteza, os sinais de uma eventual resposta francesa, que se sabia incapaz de conter, e suspirou de alívio ao adquirir a certeza de que essa resposta nao viria.
25A intervenção alemã na Guerra Civil de Espanha, a partir de Julho de 1936, também se tornou possível graças à nova atitude britânica. Tomada de improviso em Bayreuth, com Hitler acolitado pelo aventureiro da AO38. Johannes Bernhardt, no intervalo entre duas operas de um festival wagneriano, a decisão curto-circuitou inteiramente ο AA, mas acabaria por revelar uma apreciação realista da disposição anglo-francesa. Ο Comité de Londres fiscalizou os acordos de não-intervenção com uma superficialidade que constituía verdadeiro convite ao fornecimento de armas e voluntários por parte da Alemanha e da Italia, com empenhada ajuda portuguesa. Ο consenso em sufocar a revoiução social era, nesse comité, muito mais arreigado que as apreensões perante a utilização da Espanha como laboratório politico e militar do belicismo alemão. Este pôde aproveitar a oportunidade para experimentar ο seu novo armamento e para estreitar a ligação com a Italia que começara a anunciar-se um ano e meio antes, quando da invasão italiana da Eritreia39.
26Em todo ο caso, a discussão sobre ο problema colonial, em que a Bélgica e Portugal passam subitamente a ser objecto de uma atenção considerãvel, ajuda a entender a dualidade hitleriana entre radicalismo metodológico e moderação no conteudo. A partir de 1937 a perspectiva de reconstruir um império colonial, em versão alargada e a custo zero, parecia tentadora. Em Março de 1938, ο embaixador britânico em Berlim, Neville Henderson, sondou Hitler sobre a possibilidade de lhe saciar as ambições com a oferta de colónias portuguesas e belgas.
27De documentação anterior a essas sondagens, sabemos que diplomatas conservadores, como ο chefe da missão alemã em Lisboa, HoynningenHuene, esperavam que a Alemanha aproveitasse a primeira oportunidade para a redistribuição do bolo colonial40. Na Alemanha, ο ministro da Economia e presidente do Reichsbank, Hjalmar Schacht, bem como ο general Ritter von Epp, eram igualmente partidários de um programa de reivindicações coloniais. Com uma contenção surpreendente, Hitler mostrou-se, pelo contrario, pronto a aguardar pacientemente “cinco, dez ou mais anos” até que os vencedores da Primeira Guerra Mundial se dispusessem a devolver-lhe as colónias alemãs perdidas em Versalhes. Com um escrupulo jurídico insólito, recusou as colónias que a Grã-Bretanha lhe oferecia numa bandeja, porque pertenciam a “países amigos”. Na verdade, ο que estava por trás desse escrupulo juridico era ο desejo de preservar a liberdade de movimentos na Europa central e na questão do rearmamento — a pedra de toque da estratégia nazi nos anos 30.
28Mas, ao não existir da parte de Berlim nenhum interesse no derivativo colonial, nem da parte de Londres nenhuma outra oferta mais atraente, estavam reunidas todas as condições para a criação de sucessivos factos consumados na Áustria, nos Sudetas, em Praga e finalmente na Polónia, pontuada apenas por declarações ocas, como a de Chamberlain após Munique, nos intervalos cada vez mais curtos entre duas violações do statu quo europeu41.
Gerir um continente sob hegemonia nazi
29No novo quadro internacional, e também nas circunstâncias resultantes do saneamento da cupula da Wehrmacht, Neurath deixava de ser necessário à frente do AA. A sua substituição por Ribbentrop em Fevereiro de 1938 marca ο fim de quase toda a politica externa feita pelo ministério, mesmo se ela se limitava a uma gestão corrente das relações com as grandes potências.
30Joachim von Ribbentrop era a imagem viva de um AA despromovido a uma gestão corrente de relações com interlocutores cada vez menos importantes. Antigo comerciante de vinhos, antigo simpatizante dos populistas42 e de Stresemann43, ele é um dos poucos casos de conservador que, ao ingressar na política activa, se despojou verdadeiramente dessas simpatias anteriores e se assimilou ao nazismo sem qualquer reserva mental. Apressadamente destacado para uma carreira diplomática44, e colocado também à frente da embaixada em Londres, aí se notabilizou por varias gaffes de palmatória, tendo deixado ο posto incompatibilizado e ressentido com aquela mesma potência que Hitler queria ganhar como parceira.
31Mas pouco importava. A aproximação à Grã-Bretanha era um assunto demasiado sério para ser deixado nas mãos do AA. Se e quando parecesse apresentar-se uma oportunidade para repor na agenda a parceria angloalemã, essa oportunidade havia de ser tratada por canais de diplomacia paralela. Ribbentrop servia para assinar um pacto com a URSS, que os nazis não levavam a sério nem tencionavam respeitar por muito tempo. E serviria, depois disso, para disciplinar os Quislings semeados por varios parses invadidos ou para lidar com as neutralidades cada vez mais esvaziadas do seu conteúdo pelas pressões de beligerantes de ambos os lados. Marcado que estava com a saída de Neurath um novo degrau na subalternização do AA, nada impedia que as tarefas menores doravante consignadas ao ministério também pudessem ser exercidas por diplomatas de formação conservadora, como foi ο caso de Ernst von Weizsacker.
32Convém abrir aqui um parêntesis sobre essa outra tarefa que era para os nazis a soluçao da chamada “questão dos judeus”. A questão não ficou simplesmente entregue aos executores directos da “Solução Final”, mediante ordens directas vindas do “Führer” através do seu braço direito e chefe das SS, Heinrich Himmler. Todos os restantes departamentos do regime tiveram de haver-se com as implicaçães dessa questão estruturante. Ο AA ocupou-se sistematicamente delas, desde as elocubrações sobre ο “Plano Madagascar” até aos problemas relativos ao impacte que ο extermínio teria sobre as relações com parses terceiros.
33Ο “Plano Madagascar” estava necessariamente relacionado com a derrota da França, que devra ceder a sua colónia do Indico para a deportação dos judeus ocidentais, e com a expectativa num rápido acordo de paz com a Grã-Bretanha, que tornasse os mares transitáveis para ο intenso movimento previsto. Ο jurista e diplomata Franz Rademacher, receando que ο departamento responsável pela “questão dos judeus” fosse curto-circuitado em negociações de paz resultantes da capitulação da França, sublinhava a necessidade de manter esse objectivo programático do nazismo45. Como não se concretizou ο acordo anglo-alemão, ο piano foi abandonado a partir do Outono de 1940. A fase de indefinição que se lhe seguiu, preenchida pela ghettoização dos judeus polacos e balcânicos, havia de terminar com ο desencadeamento da “Operação Barbarossa”.
34Desde cedo ο AA esteve ao corrente da viragem que a guerra no Leste introduzira no tratamento da “questão dos judeus”. Em 30 de Outubro de 1941, ο chefe da Gestapo, Heinrich Müller, por ordem de Heydrich, mandava entregar no AA os primeiros cinco relatorios dos “grupos de intervençao”, que se ocupavam do fuzilamento em massa de judeus46. No ministério, Gustav Hilger fez-lhe saber que não era necessária a apresentação dos relatorios. Segundo a plausivel explicação de Döscher, ο ministério não queria ser formalmente confrontado corn este tema comprometedor. No entanto, em 25 de Novembro de 1941, ο sexto relatório foi mesmo apresentado, com a noticia de milhares de execuções de civis, nomeadamente judeus, na Estónia, na Ruténia e na Ucrânia. Döscher destaca a passagem em que se relacionam as execuções, não já com represálias por acções guerrilheiras, mas com a “Solução final” e corn a criação de um território “livre de judeus”. Weizsäcker tomou conhecimento do relatório em 12 de Dezembro47. Perante a evidência, alguns funcionários, como Albrecht von Kessel, tentariam alijar as responsabilidades do corpo diplomático no seu conjunto e fazer do “Departamento Alemanha”48 um bode expiatório, que não se coibiam de designar como “associação criminosa”49.
Diplomacias paralelas em busca duma saída
35Não se pense, contudo, que a guerra aboliu os próprios fundamentos objectivos que faziam sentir a necessidade de uma política externa. Hitler, obviamente, continuou a sentir a necessidade de alternar a guerra corn a diplomacia mas todas as suas tentativas nesse sentido passaram ao lado do AA. Logo apos a capitulaçao da Polónia, em discurso do proprio dia 6 de Outubro, deu sinal de um desejo de entendimento com os Aliados ocidentais50. Do mesmo modo, voltou a insinuar uma reconciliação com a Gra-Bretanha no discurso de 19 de Julho do ano seguinte, um mês depois da capitulaçao da França51. Ε a mal esclarecida viagem de Rudolph Hess, a confirmar-se que a sua iniciativa tenha partido do proprio Hitler52, seria igualmente uma tentativa de regressar à grande política por intermédio de um responsavel partidario, e nao do AA.
36Em todo ο caso, são bem conhecidos os sucessivos fracassos das tentativas. Ο início da guerra contra a URSS quebrou a última relação importante em que ο AA se encontrava envolvido. Ο extermínio dos judeus e dos prisioneiros de guerra conferiu entretanto à guerra no Leste um caracter diferente do que tivera a guerra no ocidente. A Alemanha nazi embrenhava-se num caminho sem retorno. A reacção de Hitler ao bombardeamento de Pearl Harbor constituiu uma viragem relativamente ao método anterior, de utilizar as posições de força conquistadas no campo de batalha para acenar com cedências que dividissem os adversários. Aqui sucedeu que, pelo contrario, apos a declaração de guerra dos EUA ao Japão foi a Alemanha a declarar guerra aos EUA, soldando irremediavelmente a unidade dos Aliados.
37Depois desta viragem, as veleidades de reabrir um processo de aproximação às potências ocidentais continuariam a ser uma constante da política nazi, que regularmente se manifestava em erupções visíveis na superficie. Mas, se já antes nao ο fazia pelo canal imprestável do AA, doravante deixaria de fazê-lo também por via de iniciativas do “ Führer”. Os sintomas de um vacuo na política externa começavam entretanto a surgir, por exemplo nas críticas esboçadas por Heydrich a Ribbentrop, um alvo fácil, como sendo um nostalgico do pacto com a URSS e um anti-britânico primario.
38Pouco mais tarde, em Agosto de 1942, seriam Himmler e ο então responsável pelo SD53, Walter Schellenberg, a constatar ο beco sem saída resultante da guerra em duas frentes. Ο chefe das SS terá então autorizado ο seu jovem subordinado Schellenberg a procurar, sem ο conhecimento de Ribbentrop – obviamente um circunlóquio para dizer sem ο conhecimento de Hitler —, canais para ο contacto com ο ocidente. Ο sub-secretário de Estado do AA, Martin Luther, em breve lhe surgiria como um instrumento para levar ο piano ainda mais longe, tentando desacreditar e derrubar Ribbentrop. Todavia, quando ο ministro se apercebeu da conspiração que ο rodeava, pediu e obteve ο apoio de Hitler para mandar prender Luther. Himmler não se decidiu à prova de força com Ribbentrop e deixou cair ο seu efémero aliado. Mas nem por isso desistiu da estratégia de paz separada, que teria de voltar à estaca zero54.
39Para chegar à fala com os Aliados ocidentais e propor-lhes um bloco comum contra a URSS, Himmler havia de empreender varias outras tentativas, tanto mais febris quanto mais se aproximava ο fim da guerra. Uma delas consistiu em fazer do agente norte-americano Abram Steves Hewitt, então colocado na Suécia, um emissário de propostas destinadas a Roosevelt – tentativa falhada em Dezembro de 1943. Uma outra foi a de fazer de “Bandi” Grozs, um judeu ao serviço das SS, ο emissário de propostas destinadas aos britânicos durante um viagem ao Médio Oriente – tentativa falhada em Julho de 1944. Outra, ainda, foi a de abrir na Suiça um canal de negociações com os EUA através de Roswell McClelland, um alto funcionário do War Refugee Board, entre Novembro de 1944 e Fevereiro de 1945. Finalmente, Himmler tentou, dois meses antes da capitulação alemã, obter a intermediação do vice-presidente da Cruz Vermelha sueca, Folke Bernadotte.
40Ao longo das varias tentativas, ο chefe das SS lançou mão de oferecimentos diversos, nomeadamente sobre a sorte dos judeus hungaros. Os grandes oferecimentos de 1944 (um milhão de judeus em troca de 10.000 camiões) começaram por ser engodos para a negociação. Verificou-se, contudo, em casos pontuais, a libertação de pequenas minorias pagantes, uma delas vinda para Portugal e levantando questões interessantes sobre ο conhecimento de Salazar quanto à campanha pela paz separada.
41Quando do atentado de 20 de Julho, significativamente, Himmler absteve-se durante as primeiras horas de fazer intervir as SS contra os seguidores de Stauffenberg que, a triunfarem, pareciam ser interlocutores possíveis para os Aliados ocidentais, ilustrados ainda por cima com os méritos do tiranicídio. Só quando se confirmou a sobrevivência de Hitler e ο fracasso da conjura, então sim, as SS foram lançadas com todo ο seu peso no contra-golpe.
42Mas ο chefe das SS continuava a perseguir ο seu objectivo sem desfalecimentos. Foi também a partir do Verão de 1944, que ele começou efectivamente a utilizar a interrupção das deportações em massa como trunfo negocial que, assim esperava, devia impressionar os seus putativos interlocutores. Em 21 de Novembro, contra a resistência de Ribbentrop e de Eichmann, impôs a interrupção da “marcha da morte”, de Budapeste para Viena.
43Finalmente viria ainda a promover uma mediação, que tão-pouco foi aceite pelos destinatários, através do conde Folke Bernadotte, presidente da Cruz Vermelha sueca. Mas ο tempo tinha-se esgotado: a Alemanha estava apenas a dois meses da capitulação55.
Conclusões
44Constitui um primeiro paradoxo da política externa nazi ο de Hitler ter sido, desde a sua chegada ao poder, mais inovador no método do que no conteúdo: proclamou os mesmos objectivos que a diplomacia weimariana, mas começou a preparar-se para alcançá-los por meios militares. A pedra de toque da política alemã passou a ser ο rearmamento. A outra faceta deste paradoxo esta no facto de a versão hitleriana das reivindicações territorials ter continuado a ser minimalista durante todo ο primeiro quinquénio de poder nazi, ao passo que a versão maximalista, nomeadamente com os seus apêndices colonialistas, ficava a cargo de personalidades formadas no universo mental dos Hohenzollern.
45Mas quem estivesse atento não precisaria de 1er ο “Mein Kampf “ para suspeitar a existência de um cripto-expansionismo hitleriano. Ο método tem um conteúdo latente, porque desencadeia uma dinâmica objectiva: estava inscrito na natureza de uma política aplicada na ponta da espingarda que ela não iria deter-se na recuperação de territórios perdidos em Versalhes. A luta pelo “espaço vital” decorria com naturalidade de um revisionismo que triunfava pela pressão e depois pela força militar.
46Um segundo paradoxo consiste no facto de a maior parte da política externa nazi, enquanto existiu alguma coisa digna desse nome, ter sido posta em prática por Neurath, um ministro que sofrera uma nazificação para ο gosto de Hitler demasiado superifical. Num balanço global, a sintonia entre ο nazismo e a direita conservadora saldou-se portanto no facto singular de a diplomacia do Terceiro Reich ter estado, por assim dizer, em mãos estranhas durante ο quinquénio, de 1933-1938, em que ainda havia lugar para a diplomacia. A posterior passagem do AA para a chefia de Ribbentrop, com as suas características de comissario nazi, já vira num momento em que ο diálogo com as potências ocidentais tende a bloquear-se e em que, abstraindo da efémera parceria germano-soviética, a diplomacia tende a ser despromovida à categoria de uma relação menor com beligerantes ou neutres de segunda linha.
47Ε surge finalmente um terceiro paradoxo: assim como foi um ministério de direcção conservadora a preparar a guerra nos anos 30, também foi ο núcleo dure do nazismo a procurar uma paz separada nos anos 40. As primeiras tentativas partiram ainda de Hitler e repetiram-se de varias formas até à fracassada viagem de Hess. A partir de 1942 e especialmente desde a derrota alemã em Estalinegrado, foram as SS ο motor de todas as iniciativas para abrir caminho a conversações com ο Ocidente. Enquanto burocratas ministeriais conservadores ou superficialmente nazificados, como Weizsäcker, se comprometiam no extermínio de judeus, ciganos ou prisioneiros de guerra soviéticos, as SS procuravam uma saída política, tão desesperadamente que chegaram a usar como moeda de troca a suspensão das deportações para Auschwitz.
Notes de bas de page
1 Günter Rosenfeld. Sowjetrussland und Deutschland. 1917-1922. Berlin: Akademie Verlag, 1960, p. 68.
2 Gian Trepp. Bankgeschäfte mit dem Feind. Von Hitlers Europabank zum Instrument des Marshallplans. 1993: Rotpunkt Verlag, Zurique, p. 13.
3 Rosenfeld, p. 395.
4 Erhard Klöss (Hrsgb.). Verträge zur Zeitgeschichte. 1918-1939. Von Versailles zum Zweiten Weltkrieg. Munique: Deutsche Taschenbuch Verlag, 1965, p. 160.
5 Klöss, p. 155 e sg..
6 Klöss, p. 179 e sg..
7 Klöss, p. 164.
8 Walter Hofer (Hrsgb.). Der Nationalsozialismus. Dokumente 1933-1945. Frankfurt am Main: ischer Biicherei, 1957, p. 171.
9 Adolf Hitler. Mein Kampf. Munique: EherVerlag, 1941, p. 741.
10 Hitler, idem, p. 736 e sg.. “Die Forderung nach Wiederherstellung der Grenzen des Jahres 1914 ist ein politischer Unsinn von Ausmassen und Folgen, die ihn als Verbrechen erscheinen lassen”.
11 Hitler, idem, p. 741. “Denn nicht in einer kolonialen Erwerbung haben wir die Lösung dieser Frage zu erblicken, sondern ausschliesslich im Gewinn eines Siedlungsgebietes, das die Grundflache des Mutterlandes selbst erhöht und dadurch nicht nur die neuen Siedler in innigster Gemeinschaft mit dem Stammland erhält, sondern der gesamten Raummenge jene Vorteile sichert, die in ihrer vereinten Grosse liegen.”
12 Hitler, idem, p. 689.
13 “Abschaum der Menschheit”. Hitler, idem, p. 750.
14 Hitler, idem, p. 742. “Wenn wir aber heute in Europa von neuem Grund und Boden reden, konnen wir in erster Linie nur an Russland und die ihm untertanen Randstaaten denken. Das Schicksal selbst scheint uns hier einen Fingerzeig geben zu wollen. (...) Seit Jahrhunderten zehrte Russland von diesem germanischen Kern seiner oberen leitenden Schichten. Er kann heute als fast restlos ausgerottet und ausgelôscht angesehen werden. An seine Stelle ist der Jude getreten. (...) Das Riesenreich im Osten ist reif zum Zusammenbruch. Und das Ende der Judenherrschaft in Russland wird auch das Ende Russlands als Staat sein.”
15 Michalka, Wolfgang (editor). Einleitung, p. 4. In: AAVV, Nationalsozialistische Aussenpolitik, 1978: Wissenschafltiche Buchgesellschaft, Darmstadt.
16 Hitler, idem, p. 738 e sg.. “Wenn man jedoch der Überzeugung huldigt, dass die deutsche Zukunft, so oder so, den hochsten Einsatz erfordert, muss man, ganz abgesehen von alien Erwagungen politischer Klugheit an sich, schon um dieses Einsatzes willen ein dessen wiirdiges Ziel aufstellen und verfechten.”
17 Hitler, idem, p. 737. “Indem sie [die bürgerliche Politiker] aber die Wiederherstellung jener Grenzen als das politischen Ziel ihres Handelns proklamieren, verbinden sie stets aufs neue den zerfallenden Bund unserer Gegner.”
18 Hitler, idem, p. 741.
19 Hitler, idem, p. 747. “Wie schwer es ist, England zu bezwingen, haben wir Deutsche zur Genüge erfahren. Ganz abgesehen davon, dass ich als Germane Indien trotz allem immer noch lieber unter englischer Herrschaft sehe als unter einer anderen.”
20 Hans-Jürgen Döscher. 55 unci Auswärtiges Amt im Dritten Reich. Diplomatie im Schatten der “Endlosung”. Frankfurt/Main; Berlin: Ullstein, 1991, p. 32.
21 Por força de uma lei de 10 de Fevereiro de 1919. Cf. Hans-Adolf Jacobsen, Zur Struktur der NS-Auβenpolitik des Dritten Reiches 1933-1945■ In: Wolfgang Michalka (coord.). Hitler, Deutschland und die Mächte. Materialien zur Auβenpolitik des Dritten Reiches. Diisseldorf: Droste Verlad 1976, p. 140.
22 Döscher, p. 42 e sg..
23 Döscher, p. 22. Tentando responder ao novo quadro de interesses estratégicos, ο ministro plenipotenciârio Edmund Schüler promoveu em 1918 a unificação das carreiras diplomática e consular, facultando à burguesia ο acesso ao corpo diplomático e passando a valorizar prioritariamente, na apreciação dos candidatos, a competência em matérias de economia ou de política comercial.
24 Döscher, p. 26. Na primeira oportunidade, a hostilidade dos diplomatas face ao acatamento do diktat de Versalhes havia de manifestar-se em acções. A atitude simbólica de Constantin von Neurath ao assumir a chefia do AA foi a de varrer do ministério tudo ο que lembrasse a Liga das Nações. Döscher, p. 62.
25 Antes de Janeiro de 1933 havia pelo menos dez altos funcionârios do AA já filiados no NSDAP. Döscher, p. 69. Em Outubro de 1937, num total de 500 altos funcionârios do AA 200 estavam filiados no NSDAP. Em especial as SS tinham registado Candidaturas “em massa” das quais 50 foram aceites até Fevereiro de 1938. Sob a chefia de Ribbentrop ο número de filiados nas SS subira para a centena: um em cada cinco altos funcionârios do AA. Döscher, p. 14.
26 Döscher, p. 70.
27 Sturmabteilungen, as secçôes de assalto nazis.
28 Döscher, p. 62.
29 Em 1934 Hider designava em conversas privadas ο corpo diplomatico como uma “sociedade de conspiradores” (Verschwörergesellschafi) e manifestava a intençâo de varrê-lo logo que pudesse. Mas, quando a ocasiâo se apresentou, com a morte Hindenburg em Agosto de 1934, não passou a vias de facto. Jacobsen, p. 142.
30 Ο prazo previsto para ο reequilíbrio era, nesse momento, de cinco anos. Klöss, p. 196.
31 Döscher, p. 63.
32 Hofer, p. 171. Klöss, p. 196.
33 Hofer, p. 170.
34 Hofer, p. 172. Klöss, p. 209.
35 Ernst Nolte. Die faschitiscbe Bewegungen. Die Krise des liberalen Systems und die Entwicklung der Faschismen. Munique: Deutsche Taschenbuch Verlag, 1977, p. 117.
36 Klöss, p. 219.
37 Klöss, p. 223.
38 Auslandsorganisation do NSDAP.
39 Klöss, p. 232.
40 Hoyningen-Huene, em Lisboa, em Junho de 1936, ao comentar sarcasticamente a “Primeira Conferência Económica do Império Colonial”, explica vários motivos que em sua opiniâo tornariam as colónias portuguesas reivindicaveis pela Alemanha. Ib.
41 António Louçã. “A diplomacia salazarista e as propostas de partilha colonial. 1937-1938”. In: História n° 34, Agosto/Setembro 1997. Marcello Caetano, que num estudo bem conhecido cita e analisa extensamente as actas da reunião Henderson-Hitler-Ribbentrop, omite contudo a referência britânica às colónias portuguesas e belgas.
42 Deutsche Volkspartei.
43 Döscher, p. 147.
44 Não no sentido clâssico da diplomacia de carreira, mas no sentido “moderno” da intervenção nazi na diplomacia. Ο futuro ministro criou a Dienststelle Ribbentrop, um dos vários organismos informais de aconselhamento do partido nazi em matéria de política externa.
45 Rademacher, citado por Döscher, p. 216. “[Die Bearbeitung dieser Fragen miisse sofort einsetzen] “damit die Abteilung [Deutschland] nicht bei evtl. aufkommenden Friedensverhandlungen der politischen Abteilung gegenuber ins Hintertreffen kommt; denn es besteht die Gefahr, dass bei der politischen Abteilung sich ein aus der Sache bedingtes imperialistisches Denken durchsetzen wird und dass dabei leicht ûbersehen werden kann, Gross-Deutschland im Friedensvertrag soweit nur irgend môglich gegen die überstaatlichen Machte zu sichern. Der jetzige Krieg hat eben ein doppeltes Gesicht: ein imperialistisches – die Sicherung des fur Deutschland alss Weltmacht politisch, militarisch, wirtschafltich notwendigen Raumes-, ein uberstaatliches – Befreiung der Welt aus den Fesseln des Judentums und der Freimaurerei”.
46 Einsatzgruppen.
47 Döscher, p. 246 e sg..
48 Deutscbland-Abteilung.
49 Döscher, p. 254.
50 Ulrich Schlie. Kein Friede mit Deutschland. Die geheimen Gespräche im Zweiten Weltkrieg. Munique/Berlim: Langen Miiller, 1994, p. 26.
51 Hofer, p. 241. Winston Churchill. The Second World War. The Fall ο France (vol. 3). Londres: Cassell, 1964, p. 231 e sg..
52 Schlie, p. 291.
53 Sicherheistdienst.
54 Döscher, p. 256 e sg..
55 António Louçã. “O caso da família Weiss-Chorin e seu exílio em Portugal”. In: História, Maio 1995.
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