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100 Cartas para Paulo Freire de quienes pretendemos Enseñar

 | 
Francisco Gárate Vergara

3. Reflexiones y educación

Entre Letras e Lutas: jovens que ousam lutar, constroem o poder popular

Antônio Luiz Miranda et Willian Simões

Texte intégral

1Nesta carta, queremos compartilhar com todos e todas que lutam e trabalham diuturnamente para a construção de um mundo sustentável e humanizado, a experiência do Projeto Letras e Lutas. O objetivo do referido projeto é contribuir com a formação de jovens líderes que atuam em diferentes movimentos sociais e sindicais populares no estado de Santa Catarina, Brasil. Assim, queremos explicitar como sua proposta político-pedagógica dialoga e busca subsídios no legado do “menino que lia o mundo” (Brandao, 2014) que nos provoca a esperançar: Paulo Freire, nosso eterno Patrono da Educação brasileira.

2Em nosso país, vivemos tempos sombrios, marcados pelo avanço de forças neoliberais e neofascistas que, travestidas nos lemas “ordem e progresso” ou “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, atuam para explorar/degradar nossos territórios de vida, o trabalho humano e a natureza, produzir desigualdades sociais, promover o culto ao dinheiro, ao consumo voraz, ao individualismo e à meritocracia. Agem para a criminalização das mobilizações e movimentos populares [o inimigo comum], assim como à adaptação e submissão dos modos de ser, estar, viver e conviver às leis de mercado. Mas como Paulo Freire (1987, p. 83) já nos alertava: “para o pensar ingênuo, o importante é a acomodação”, mas “para o crítico, a transformação permanente da realidade, para a permanente humanização dos homens”, pois “as sociedades não são, estão sendo o que delas fazemos na História, como tempo de possibilidade” (Freire, 2012, p. 64).

3E, é justamente por não adotar postura fatalista que nos mobilizamos para estudar, debater, compartilhar experiências que nos permitam vislumbrar outros futuros. Juntamos jovens que, nas letras, estão dispostos a buscar subsídios, aportes teórico-conceituais, contextuais e metodológicos que ampliam sua capacidade de compreensão do mundo em que vivem. Mas que também estão comprometidos nas lutas pela terra, pelo território, por dignidade e justiça social, por moradia, pela saúde, por alimentação saudável, em defesa da escola pública e por educação emancipatória, pela superação de preconceitos e desigualdades. Pois jovens que ousam lutar, constroem poder popular.

4 No projeto Letras e Lutas, prioriza-se uma pedagogia dialógica e problematizadora de formação em rede. Um conjunto menor de jovens do campo e da cidade se encontram em uma turma centralizada [tempo-universidade] para se conhecer, compartilhar saberes e projetos de vida, angústias e utopias. Com o apoio e mediação pedagógica de educadores e educadoras populares, focam em estudos temáticos comuns, aprendem e exercitam a auto-organização, manifestam-se culturalmente e politicamente. Após, este grupo retornam às suas comunidades [tempo-comunidade] para, em círculos de diálogo, reunir-se com outros jovens para compartilhar e debater o que aprenderam.

5O conteúdo programático foi selecionado e organizado a partir desta pedagogia, levando em consideração a conjuntura vivida no Brasil, em particular, seus desdobramentos no seio dos territórios de vida destas juventudes. Muito diferente da perspectiva bancária de educação que, enxerga no outro um recipiente vazio a ser preenchido, conduzimos um trabalho priorizando a “situação presente, existencial, concreta”, propondo “através de certas contradições básicas” desta conjuntura atual, problemáticas que desafiam e, por sua vez exigem respostas “não só no nível intelectual”, mas também no “nível da ação” (Freire, 1987, p. 86). Nesse sentido, se fizeram presentes temas como a formação de jovens líderes a partir dos princípios teóricos e metodológicos da educação popular; como funciona a sociedade do capital; as múltiplas identidades juvenis e a organização de coletivos jovens em uma sociedade de classes; juventude, fascismo e as lutas pela democracia; mídia, redes sociais e luta política; juventudes e projeto de vida.

6Cada um destes conteúdos programáticos, entendidos como temas geradores, são recheados de assuntos que orientam o trabalho pedagógico. Quando as juventudes se reuniram para estudar sobre “como funciona a sociedade do capital”, por exemplo, se debruçaram para ler, refletir e dialogar sobre os princípios e os pressupostos, as formas e processos que estruturam a sociedade de classes; as múltiplas expressões e resistências das juventudes no capitalismo e; os desafios das lideranças jovens diante da atual conjuntura de avanço das forças neoliberais e neofascistas no Brasil. Cabe salientar que, nos encontros, são priorizadas proposições de estudos em grupo, desenvolvimento de reflexões e de práticas que ampliem horizontes e fomentem um retorno mais lúcido à conjuntura problematizada.

7A partir desta perspectiva formativa que compreende metodologias dialógicas e participativas, envolve o diálogo de saberes e a troca de conhecimentos, está comprometida com a relação entre conhecimentos, os territórios de vida e as lutas pela superação das situações-limites que emergem na conjuntura, que nos mobilizamos para ensinar e aprender entre letras e lutas. Nos movimentamos para sentipensar uns com os outros por meio da educação popular (Freire e Nogueira, 1993), na busca pelo fortalecimento de uma formação política que, a seu tempo, não só subsidiará as análises necessárias para compreensão do mundo que se apresenta complexa e contraditória à classe trabalhadora oprimida, como também fortalecerá as lutas que a atualidade impõe a nós e, em particular, às juventudes do campo popular, por um mundo em que as juventudes tenham o direito pleno de “ser mais”. Assim, podemos dizer que PAULO FREIRE ‘VIVE’ em nossas mentes, nossas práticas e em nossos corações.

8VIVA A PAULO FREIRE, NOSSO PATRONO DA EDUCAÇÃO!

Referencias

Bibliographie

Brandão, C. (2014). História do menino que lia o mundo. São Paulo: Expressão Popular.

Freire, P. (1987) Pedagogia do oprimido. (17ª Ed.) Rio de Janeiro: Edit. Paz e Terra.

Freire, P. y Nogueira, A. (1993). Que Fazer: Teoria e Prática em educação popular. 4ª Ed. Petrópolis, RJ: Editorial Vozes.

Freire, P. (2012) À sombra desta mangueira. (10ª Ed.) Rio de Janeiro. Editorial Civilização Brasileira.

Auteurs

Universidade Federal da Fronteira Sul Brasil

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