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Como conheci Paulo Freire
p. 258-259
Texte intégral
1Parte da minha vida foi dedicada ao serviço do outro quando fiz parte de uma comunidade religiosa. Neste tempo, morei, estudei e trabalhei em Salvador, Bahia, Brasil. Pude, então, conhecer também outros lugares do sertão Nordestino brasileiro e compreender de forma profunda o pensamento de Paulo Freire, quando ele se refere a uma desumanização histórica do ser humano.
2Ao cursar graduação em Filosofia, comecei a estudar Paulo Freire e escrevi meu Trabalho de Conclusão de Curso - TCC com o título “Educar o humano: construção do sujeito em Paulo Freire”. Enquanto lia os livros de Freire para escrever meu trabalho ia assimilando o seu grande ensinamento de que aprender a ler e escrever significa aprender a ler, interpretar e transformar o mundo à nossa volta.
3O pensamento de Freire nos remete para além da pergunta sobre a essência do ser humano. Ele nos conduz à compreensão de que a desumanização é uma consequência histórica do capitalismo, que exclui e condena a uma vida sacrificada que não chega a participar das conquistas geradas pelo trabalho de cada um. Dessa forma, educar, ensinar e aprender com o ser humano significa encontrar possibilidades para sua humanização, conscientização e emancipação.
4Tornar o ser humano sujeito de sua própria vida significa ajudá-lo a tornar-se crítico, criativo, curioso, pensante, autônomo e livre. Enquanto o ser humano vive na concretude da história, ao mesmo tempo se dá conta de que nunca está completo, de que está sendo sempre, em um processo contínuo de transformação. A consciência do inacabamento impulsiona para o futuro, o faz crer na utopia e caminhar para construirse enquanto pessoa humana.
5Ser humano e mundo não chegam a uma perfeição total, mas estão em um eterno vir a ser, em constante renovação, na busca e construção de novos saberes, de novas formas de ser, de fazer-se e fazer as coisas. É a consciência do inacabamento que desperta, pois sempre há algo novo em cada relação que se estabelece entre o ensinar e o aprender.
6 Em meu caminho de investigação e conhecimento do pensamento de Paulo Freire, cursei o Mestrado em Educação, do qual resultou meu segundo livro publicado: “Educação Dialógico-libertadora é possível?”. O diálogo constitui-se em uma categoria fundamental na perspectiva freireana. No capítulo três da “Pedagogia do Oprimido”, Freire descreve o diálogo como processo essencial da educação libertadora. O diálogo, na educação libertadora, apresenta-se como a metodologia e o compromisso político que coloca no centro do processo educativo a transformação do ser humano em protagonista da sua formação e da mudança da sociedade.
7Educar é uma forma de agir no mundo e transformá-lo e não apenas um processo passivo de adquirir conhecimentos, como acontece na “educação bancária”. No processo educativo é fundamental a “pedagogia da pergunta” que suscita a curiosidade epistemológica. O diálogo, na perspectiva freireana, subentende a capacidade de dizer o mundo, pronunciar o mundo e transformar o mundo.
8A pedagogia freireana compreende o diálogo como ato de criação, inspiração criadora que nasce da relação entre os sujeitos. O diálogo é um encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos, iniciando, assim, um processo de real transformação, de dentro para fora, como movimento autônomo e não como imposição.
9Um mundo mais humano e justo precisa ser construído pelos sujeitos. Não são partidos políticos, mas sujeitos conscientes, ativos, verdadeiramente humanos que transformam o mundo em um lugar onde há lugar para todos e todas as formas de vida.

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