Uma vida entre ensinar, aprender e sonhar
p. 253-254
Plan détaillé
Texte intégral
1Acabamos de sair de um ano no qual, praticamente, não houve escola. Iniciamos o ano letivo e alguns dias depois, a pandemia do Covid-19 assombrou nosso país e as escolas fecharam. Foram meses de incertezas, recaídas e aumentos nos números de mortes, corte nos empregos, crianças fora da escola e professores, como sempre, desvalorizados. Durante o ano de 2020, muitas reuniões foram feitas, segundo os gabinetes dos governantes era necessário e urgente que as escolas reabrissem. Foi uma grande surpresa que tantos governantes olhassem para a escola e falassem dela com a falsa propriedade de quem a frequenta. Tenho certeza que se estivesse aqui, você também concordaria que, de fato, era necessário e urgente que as escolas retornassem. Principalmente quando falamos em escola pública, mas com qual estrutura? Se estivesse aqui, teria visto escolas privadas comprando equipamentos de proteção individual, álcool, contratando enfermeiros, organizando eventos virtuais com médicos para a orientação de professores. As atitudes estão corretas, obviamente, mas restritas a uma parcela das crianças e adolescentes que frequentam a escola. A escola pública não foi tão bem, e cada vez que falo e defendo o ensino público, lembro do que você escreveu em A educação na cidade:
A escola pública não anda bem, não porque faça parte de sua natureza não andar bem, como muita gente gostaria que fosse e insinua que é. A escola pública básica não anda bem, repitamos, por causa do descaso que as classes dominantes neste país tem por tudo o que cheira a povo ().
Freire, 2001
2Entramos no ano de 2021 com escolas privadas abertas, as públicas e municipais seguiram fechadas, mas fazendo o que lhes era possível com os recursos que tinham e quando estas tentaram um retorno, mais um aumento no número de casos da doença e um novo fechamento. E, entre tantas coisas que nos preocupam enquanto educadores conscientes, acredito que o que mais nos aflige é a falta da educação como um ato crítico, um ato de pensar, um ato de perceber-se no mundo, pois entramos em uma guerra entre “as coisas são assim mesmo” e a ideia de que conseguimos mudar com posicionamento e criticidade em todas as esferas da vida pública.
3 Tentamos manter a esperança, aquela que você mencionava em suas obras: a esperança do verbo esperançar. Essa esperança que cada dia mais se faz necessária para que tenhamos uma mudança: “Não é, porém, a esperança um cruzar de braços e esperar. Movo-me na esperança enquanto luto e se luto com esperança, espero” (Freire, 1981).
4Em meio a tantas dificuldades, nós educadores freireanos, continuamos lutando e relembrando que a história é um tempo de possibilidades e não de determinismo. Continuamos lutando por uma educação libertadora ao invés da educação mecanizada, que só se constitui de repetições e se finda em exclusão. E, para além disso tudo, sua memória tem sido constantemente atacada por aqui, por aqueles que nunca leram um livro seu.
5Por aqui, apesar de tanta desvalorização e, às vezes, um pouco de medo, nós seguimos tentando fazer da educação um campo de possibilidades, uma construção diária com múltiplas contribuições. Continuamos na luta por uma educação justa, que não exclua, que faça pensar, que faça enxergar o mundo e estar aqui criticamente, que consiga fazer enxergar que temos tempo para a luta e que, infelizmente, ainda estamos vivendo um eterno oprimido contra opressor sem nunca pensar na possibilidade de uma libertação.
6Como professora ética e crítica, sigo colocando perspectivas no amanhã com a certeza de que educar é intervir no mundo. Apesar dos percalços, a educação ainda está cheia da crença de que o mundo pode ser melhor.
“Esperança é a antecipação do futuro. Uma possibilidade em aberto. A esperança é sentimento e conhecimento” Bloch.
Referências
Bibliographie
Freire, P. (1981). Pedagogia do oprimido. (9. ed.) Rio de Janeiro. Editora Paz e Terra.
Freire, P. (2001). A educação na cidade. (5. ed.) São Paulo. Editora Cortez.
Auteur
Universidade La Salle Brasil
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